Ferrovia Vitória-Rio: mudança para evitar fracasso com a EF-118
Governo quer incluir o ramal Anchieta, do Porto de Ubu a Vitória a Minas, à licitação, por receio de a Vale não fazer a construção
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Prevista para o início de 2026, a licitação da EF-118 — chamada de Ferrovia Vitória-Rio — vem passando por uma série de alterações técnicas e estratégicas, com o objetivo de garantir viabilidade econômica ao projeto e evitar o fracasso do leilão.
Entre os ajustes em análise está a inclusão na oferta a construção do chamado Ramal Anchieta, para ligar a Ferrovia Vitória a Minas (EFVM), em Santa Leopoldina, ao Porto de Ubu, em Anchieta.
Sob responsabilidade da Vale, o ramal deve ser incorporado à concessão da EF-118, segundo avalia o Ministério dos Transportes. A integração é considerada decisiva para conectar a nova ferrovia à EFVM, mas o mercado vê como risco a obra pela mineradora — por isso a inclusão da obra na concessão.
“É um assunto que surgiu em todas as conversas com interessados. A ferrovia pode gerar concorrência à Vale, então há desconfiança de deixar a obra com o grupo. É o tema mais sensível”, disse o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro.
O secretário de Estado de Desenvolvimento, Sérgio Vidigal, frisou que o investimento nesse trecho é “fundamental para viabilizar a ferrovia”; já o presidente da Federação das Indústrias do Estado (Findes), Paulo Baraona, reforça que encontrar mecanismos para tirar o projeto do papel é prioridade.
A previsão é que a EF-118 tenha 262 km no Espírito Santo. O traçado da ferrovia também está sendo adaptado, com o objetivo de mitigar impactos ambientais e facilitar o processo de licenciamento.
Rio
Além disso, o governo federal estuda incluir no contrato de concessão outro segmento fluminense, ligando São João da Barra a Nova Iguaçu. Segundo o jornal Valor Econômico, a ampliação exigirá um reequilíbrio econômico-financeiro no contrato.
A proposta em análise prevê que a construção do trecho no Rio se torne obrigatória, mas que sua execução dependa do “atingimento de gatilhos de demanda”. “O início da fase 3 ou 4 do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) geraria demanda para isso”, explicou Santoro.
Atualmente, a EF-118 é vista como o único projeto ferroviário com reais condições de ser leiloado ainda durante o mandato do presidente Lula. Outros dois projetos estão em planejamento: a Ferrogrão e a ligação Fico-Fiol.
Mais empresas demonstram interesse na construção
Alguns interessados já são cotados para o leilão que irá licitar a EF-118. Entre os nomes apontados, estão grandes operadores logísticos nacionais.
A Prumo, proprietária do Porto do Açu, é um deles, segundo o jornal Valor Econômico. A empresa estaria buscando compor um consórcio de empresas para concorrer ao leilão da ferrovia.
A Equipav, que trabalha no ramo do saneamento, também tem analisado, de modo preliminar, leilões ferroviários federais e poderá se juntar a um grupo chinês que já procurou a empresa, diz fonte ouvida pelo jornal.
A MRS e a VLI, que já operam no mercado, também são apontadas como potenciais interessadas.
Entenda
Alterações no traçado em pauta
Modelo deve sair até agosto
O governo federal trabalha em ajustes no modelo de licitação da EF-118, a chamada Ferrovia Vitória-Rio, que deverá ser finalizado até o início de agosto, segundo o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro.
As mudanças em estudo incluem alterações no traçado para mitigar questões ambientais, um seguro para garantir aportes públicos e a inclusão de um trecho de 80 km no Espírito Santo, que, a princípio, ficaria a cargo da Vale.
O leilão da ferrovia é visto como o único do setor com chance de sair até o fim da atual gestão.
A concessão da EF-118, a princípio, terá 170 km, com o chamado Trecho Central, entre Anchieta (ES) e São João da Barra (RJ), próximo ao Porto do Açu.
A previsão inicial do contrato era de R$ 4,6 bilhões de investimento e um aporte do governo de R$ 3,3 bilhões para viabilizar a obra — porém, com os ajustes, os valores vão subir.
O projeto também prevê a possibilidade de, no meio do contrato, um segundo bloco ser incorporado: o Trecho Sul, com 325 km, até Nova Iguaçu (RJ), onde haveria conexão com a malha da MRS.
Para que o segundo trecho seja incluído, o contrato terá de passar por reequilíbrio econômico-financeiro.
O governo trabalha em ajustes no tema: a ideia é que a construção do bloco Sul seja uma obrigação, mas que só será ativada se forem atingidos gatilhos de demanda da região.
Analistas dizem que será desafiador tirar do papel a ferrovia, a ser construída do zero.
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