Envelhecimento da população vai forçar nova reforma da Previdência
A previsão dos especialistas é de que, nos próximos anos, seja inevitável realizar mudanças
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O cenário apresentado pelo Censo Demográfico de 2022 mostra que o envelhecimento da população brasileira poderá tornar necessária uma nova reforma previdenciária nas próximas décadas. Especialistas já destacam que ela deve acontecer até 2040.
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O crescimento anual percentual da população brasileira está em queda desde a década de 1960, e, atualmente, está em 0,5% por ano, a menor desde 1872. Além disso, a proporção de idosos aumentou, enquanto a de jovens diminuiu.
“Os aposentados são custeados pelos trabalhadores da ativa, então, o ideal é termos mais adultos em atividade do que aposentados. O cenário das próximas décadas é oposto a isso. Então, uma nova reforma será necessária”, explica o economista Ricardo Paixão.
O presidente da Associação Capixaba dos Institutos de Previdência (Acip), Wilson Marques, considera como “inevitável” a realização de uma nova reforma nas próximas décadas.
“A reforma feita em 2019 não veio para resolver o problema, mas para aliviar um pouco a situação das contas públicas, especialmente dos municípios. Se seguir o envelhecimento, será inevitável uma nova reforma.”
O economista Jorge D'Ambrósio estima que essa reforma se fará necessária em torno do ano de 2035, por conta do movimento atual demográfico do País. Ele detalha que haverá um “bônus demográfico” nos próximos 10 anos, onde a maior parte da população será adulta e ativa.
Isso reduzirá o número de dependentes, sobrando mais dinheiro para o consumo e o investimento pela população e pelo Estado. “Só que depois desse período do bônus, a população estará envelhecida e não haverá jovens suficientes para arcar com o custo alto das aposentadorias”, disse.
Em entrevista ao jornal Poder360, o sociólogo José Eustáquio Diniz avaliou que a pandemia antecipou em cinco anos o fim deste “bônus demográfico”, e detalhou que é essencial que o País aproveite este período para alcançar o patamar de desenvolvimento de renda dos países desenvolvidos.
“Mas terá que se discutir que tipo de reforma. O Brasil tem atualmente 15% de pessoas com mais de 60 anos. Vai chegar na segunda metade do século com 40%. O Japão hoje tem 30%. O processo de envelhecimento será rápido e profundo no Brasil”, detalhou.
Aumento da expectativa de vida e custo para criar filhos
Especialistas detalharam que uma série de fatores justificam o envelhecimento populacional que o Brasil está vivenciando. Os principais citados foram o aumento da expectativa de vida, que saltou de 48 anos, em 1960, para 77 anos, em 2022, e os crescentes custos para manter um filho.
“O acesso à saúde melhorou e possibilitou que a população vivesse mais e aproveitasse por mais tempo a aposentadoria”, explica o economista Marcelo Loyola Fraga.
O economista Jorge D'Ambrósio cita, ainda, que o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho influenciou na inversão da “pirâmide” demográfica, citando que, até a década de 60, a participação da mulher no mercado de trabalho era reduzida, o que resultava em famílias com muitos filhos.
“Hoje elas são maioria nas universidades e têm um papel que vai muito além de só cuidar da casa e dos filhos, com participação efetiva no mercado de trabalho, o que também faz com que elas queiram ter poucos filhos.”
Previdência privada desde a faculdade
O empresário Ricardo Fadini (na foto principal, mais acima) conta que desde 2000, quando ainda estava na faculdade e cursando Engenharia, paga sua própria previdência privada. Com duas filhas adolescentes, ele afirma que, hoje, também paga a previdência das filhas para garantir a segurança financeira delas.
“A situação da previdência pública é delicada, e considero importante deixar essa reserva para elas. Não podemos ficar dependentes das incertezas do governo.”
Ele conta que criou a startup Graninha Kids para ajudar pais na educação financeira dos filhos, e que a questão da previdência privada é apenas um dos pontos abordados.
"É essencial preparar desde cedo as crianças para lidarem com o dinheiro, de forma responsável e objetiva.”
ENTENDA A SITUAÇÃO
Crescimento cada vez menor
- O cenário demográfico do Censo de 2022 comprova que a sustentabilidade do sistema previdenciário atual é incerta.
Gasta-se mais do que se arrecada
- A tendência é piorar com o aumento de aposentados e diminuição da população economicamente ativa;
Envelhecimento da população
- O envelhecimento da população brasileira é resultado de dois fenômenos demográficos. O primeiro é a queda na taxa de fecundidade, isto é, na expectativa média de filhos que uma mulher terá ao longo da vida.
- Na década de 1960, esse número era de 6,3 filhos por mulher. Em 2010, passou a 1,87. O número do Censo de 2022 ainda não foi divulgado, mas estima-se uma queda para 1,7.
- Além disso, a proporção de idosos aumentou, enquanto a de crianças e jovens diminuiu.
População
CENSO 2022
203.062.512 habitantes
- O crescimento anual percentual está em queda desde a década de 1960, e, atualmente, está em 0,5% por ano, a menor taxa desde 1872, ano do primeiro levantamento.
1 Fatores
- A queda da fecundidade pode ser causada por fatores como a popularização de métodos contraceptivos e educação sexual, a entrada de mais mulheres em universidades e no mercado de trabalho e custos crescentes para manter um filho.
- O segundo fenômeno por trás do envelhecimento populacional é a maior expectativa de vida – o tempo médio que uma pessoa nascida em determinado ano viveria.
Expectativa de vida do brasileiro nascido em:
1960: 44 anos
2010: 73,4 anos
2022: 77 anos
Assim, o número de brasileiros mais velhos está aumentando, enquanto o de jovens está diminuindo. Isso leva a um alargamento no topo da pirâmide etária, e um achatamento na base.
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