Em dois meses, indústria demitiu mesmo número que contratou em 2019
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“Já estávamos vindo de uma grande crise, e fomos abatidos assim que começamos a tentar levantar voo”. É essa a definição do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes), Leonardo de Castro, para os impactos provocados pela pandemia do novo coronavírus no setor. Em dois meses, a indústria capixaba demitiu praticamente o mesmo número que contratou durante todo o ano de 2019.
Um dos motivos para tanto é que, por causa da nova crise, 76% das indústrias do Espírito Santo estão trabalhando com o volume de produção abaixo ou muito abaixo do esperado, conforme pesquisa realizada pela Findes com 383 empresas do Estado dos seguintes setores: indústrias extrativas, indústria de transformação, indústria da construção, comércio e reparação de veículos, informação e comunicação, transportes e armazenagem, outros.
A queda na produção afetou não apenas o faturamento das indústrias – 73% tiveram alguma queda na receita –, como também os investimentos previstos para o primeiro semestre deste ano.
Cerca de 77% das empresas planejavam realizar algum investimento no período. Destas, apenas 10% realizaram os investimentos conforme tinham planejado; 25% realizaram parcialmente. Outros 28% adiaram os investimentos para depois de 2020 e 17% adiaram para o segundo semestre desse ano.
O momento de incerteza, porém, causou mais que postergações. Das empresas que planejavam investir no Espírito Santo no primeiro semestre deste ano, 21% cancelaram os investimentos, sem previsão para nova tentativa.
Acesso ao crédito
Investir pressupõe crescimento, mas, para muitas indústrias, a sobrevivência é um desafio. Dos empresários entrevistados pela Findes e o Ideies, 34% afirmaram que tentaram acessar linhas de crédito por causa da nova crise. Destes, apenas 14% tiveram sucesso.
O excesso de burocracia e restrições a crédito anteriores foram vistos como os principais empecilhos para quem teve a solicitação negada. Outros 30% ainda pretendem tentar um financiamento.
Empregos
Para tentar conter as demissões, 32% das indústrias capixabas já adotaram a redução proporcional de salário e carga horária, e 29% das empresas já adotaram a medida de suspender contratos trabalhistas por até 60 dias; 16% ainda pretendem adotar a medida.
Contudo, embora as medidas sejam consideradas importantes pelos empresários, 65% consideram que os prazos não são suficientes para passar pela crise decorrente da pandemia do novo coronavírus.
Nesse cenário, apesar dos esforços, também houve significativo aumento no número de desempregados do segmento. Em março e abril, a indústria capixaba demitiu o equivalente a todos os postos de trabalho criados pelo setor em 2019 – 43% das empresas já reduziram o quadro de funcionários, e 19% ainda pretendem demitir.
“Quase 60% das indústrias prevê a retomada da produção ao nível pós-crise num período acima de seis meses, mas a retomada das contratações deve ocorrer em ritmo mais lento. É algo esperado somente a partir do segundo semestre de 2021”, avaliou o presidente da Findes, Leonardo de Castro.
A demora é resultado não apenas da queda de receita das empresas, mas também da transformação tecnológica, acelerada pela crise, e também da situação econômica do País, que já vinha de uma longa crise.
Reformas
Diversas reformas econômicas previstas foram adiadas devido à pandemia. Entretanto, são tidas como fundamentais para que o país se recupere. Diante disto, a Findes lançou, na tarde desta terça-feira (23), um manifesto a favor das reformas, privatizações e marcos legais a fim de acelerar o processo de retomada da economia, e da criação de empregos.
“Ou o Brasil reforma, abre para privatizações, cria marcos legais, ou vai ficar como está. E precisamos disso rapidamente, não em um futuro que nunca chega”, frisou Castro.
Conforme destacou o diretor-executivo do Ideies, Marcelo Saintive, a tendência é que, enquanto a agenda econômica não for priorizada pelo governo, o nível de desemprego aumente cada vez mais no Espírito Santo, e no Brasil como um todo.
“Além disso, enquanto isso é postergado, vai haver um aumento na informalidade, porque as pessoas precisarão encontrar formas de sobreviver. Precisamos dessas reformas não apenas para criar empregos, mas para criar empregos de qualidade.”
Leia abaixo o manifesto da Findes:
UM GRITO PELAS REFORMAS: MANIFESTO EM DEFESA DO BRASIL
Os 210 milhões de brasileiros têm o direito à oportunidade de uma vida melhor, com educação, saúde, saneamento e segurança. Afligidos pela pandemia e pelo fantasma do desemprego, não podemos ficar presos à estagnação econômica promovida por impasse político ou disputas partidárias. É hora de unir o país em torno do que realmente importa: gerar esperança e oportunidades para uma sociedade já exaurida.
De 2015 até o momento, o PIB do Brasil decresceu perto de 4%, enquanto o mundo cresceu 15% e os emergentes, 25%. Um país estagnado não oferece futuro à sua população!
A pandemia deve ser controlada com protocolos sanitários, mudança de comportamento da sociedade e o incansável trabalho dos profissionais de saúde. Cientistas do mundo inteiro correm para desenvolver vacinas. A pandemia vai passar.
Mas, quando ela passar, o que restará para a sobrevivência de milhões de trabalhadores desta e de futuras gerações? O Brasil não tem mais tempo a perder.
Caminhamos para duas décadas perdidas em um ciclo de 40 anos: a década de 1980 e esta, de 2010 até hoje. O que está em jogo é a nossa agenda de longo prazo: podemos comprometer o nosso futuro de forma irremediável, se não adotarmos medidas com urgência.
Precisamos lançar um grito pelas reformas estruturais, pela aprovação de marcos regulatórios que facilitem investimentos, pelas concessões e privatizações que façam frente à total falta de capacidade de investimento do país e dos Estados, gerando assim emprego e renda para todos.
Lideranças do Executivo e do Legislativo devem agir com a responsabilidade que o momento exige, em todas as esferas, Municipais, Estaduais e Federal.
Há pelo menos 20 anos o país debate reformas como a administrativa e a tributária. Tempo mais que suficiente para o amadurecimento de consensos.
Nesta semana o Senado deve concluir a votação do novo marco do saneamento. É um passo. Mas precisamos de muito mais.
Listamos abaixo destaques da agenda que entendemos serem URGENTES para a retomada do crescimento:
1) Nova lei do gás (PL 6407/2013)
2) Autonomia do Banco Central (PLP 200/1989)
3) Governo Digital (PL 3443/2019)
4) Novo Marco Legal de Ferrovias (PLS 261/2018)
5) Marco Legal do Saneamento Básico (PL 3261/2019)
6) PEC Emergencial (PEC 186/2019)
7) Reforma Tributária (PEC 110/2019 SF e PEC 45/2019 CD)
8) Reforma Administrativa (em discussão, a ser enviada ao Congresso)
9) Reforma do Setor Elétrico (PLS 232/2016)
10) Lei Geral do Licenciamento Ambiental (PL 3729/2004 e PLS 168/2018)
11) Contrato de Trabalho Verde e Amarelo (MPV 905 do Poder Executivo)
12) Pacto Federativo (PEC 188/2019)
13) Desestatização da Eletrobras (PL 5877/2019)
14) Execução do Programa Nacional de Desestatização, atualmente com 17 empresas.
A decisão está nas mãos do Executivo e do Legislativo. Precisamos que as lideranças façam acontecer!
TODA A SOCIEDADE PRECISA COBRAR O AVANÇO DESTA PAUTA. ESTA DEVE SER A AGENDA URGENTE DO BRASIL PARA O BRASIL.
Vitória, 23 de junho de 2020.
FEDERAÇÃO DAS INDUSTRIAS DO ESPÍRITO SANTO - FINDES
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