Crise na Americanas afeta vida de cliente e investidor
Dias após a descoberta do rombo das Americanas, especialistas do mercado financeiro e advogados alertam para as eventuais inseguranças econômicas
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Dias após a descoberta do rombo das Americanas, especialistas do mercado financeiro e advogados alertam para as eventuais inseguranças econômicas a consumidores e trabalhadores que podem ocorrer.
As ações da Americanas despencaram quase 80% na semana passada, depois que a empresa publicou um comunicado em que admitia “inconsistências em lançamentos contábeis” no balanço. O rombo anunciado chega a R$ 20 bilhões, mas a dívida total atinge R$ 40 bilhões.
Segundo levantamento da Economatica, a pedido do site E-Investidor, 1.057 fundos (588 de ações e 469 de debêntures) têm a Americanas em suas carteiras.
Isso afeta um grande número de investidores País afora, inclusive no Estado, mesmo os que não estão na Bolsa. Até a renda fixa pode ser afetada, como produtos bancários.
Professor de Economia da Ufes e membro do Conselho Regional de Economia (Corecon-ES), Celso Bissoli não descarta a possibilidade de falência da empresa.
“Isso ocorreria apenas se o programa de recuperação financeira no processo de recuperação judicial não for cumprido. Mas antes ela terá que entrar com o pedido.”
Segundo Denize Izaita, especialista em Direito do Consumidor, “os clientes não estão livres de serem impactados”. “Com o recuo dos investimentos, teremos naturalmente redução do capital de giro. Temo que haja redução do estoque, e impossibilidade do cumprimento de prazos e compromissos.”
Assessor e sócio da Ável Investimentos, Marcelo Telles explicou que a Americanas terá de corrigir os demonstrativos financeiros ou passará a ter percepção de risco muito alta para se investir e com possibilidades de quebrar.
Telles lembra que, antes do escândalo, a Americanas estava com valor de mercado próximo a R$ 11 bilhões. Agora tem valor de R$ 2 bilhões, queda superior a 80%.
“Quando a inadimplência aumenta, os riscos crescem. Com toda essa percepção de risco, fundos que detém as ações da Americanas e títulos de dívidas da empresa acabaram sofrendo uma queda, pois ambos caíram em valor de mercado”, explicou Telles.
Especialista em renda variável da Valor Investimentos, Paulo Luives disse que as casas de análise, que fornecem recomendações de compra e venda de ações, colocaram a Americanas sobre revisão. “Há muita incerteza ainda.”
A Americanas foi procurada, mas não se manifestou.
Risco de demissões no segmento
Nem o mercado de trabalho está livre dos eventuais impactos do rombo financeiro nas contas da Americanas. Além de demissões de funcionários, terceirizados de empresas parceiras também estão na mira de risco.
Advogado trabalhista, Wiler Coelho considera que um agravamento na situação das Americanas pode acarretar até no fechamento de lojas da empresa.
“Dependendo do plano de recuperação apresentado, pode haver uma necessidade de redução de pessoal e até o fechamento de algumas lojas, o que propiciaria a redução dos postos de trabalho, com impactos diretos e indiretos”.
Especialista em Direito Trabalhista, Luiza Vasconcelos conta que, devido ao seu porte empresarial, uma eventual falência da Americanas pode representar mais ações trabalhistas na Justiça.
“Com seu extenso quadro de funcionários, certamente o encerramento das suas atividades causarão um impacto monstruoso no mercado de trabalho e, caso não consiga pagar as verbas rescisórias, um aumento exponencial de ações trabalhistas.”
Wiler também concorda que o pagamento de demandas trabalhistas podem ficar prejudicados.
ENTENDA
“Rombo” contábil
A Americanas percebeu que R$ 20 bilhões — referente aos primeiros nove meses de 2022 e anos anteriores — não haviam sido registrados de forma apropriada nos balanços corporativos da empresa.
Além de emitir um comunicado informando a situação, o presidente da companhia, Sergio Rial, deixou o cargo apenas nove dias depois de assumir.
O diretor financeiro da empresa, André Covre, também renunciou ao cargo.
Impacto no mercado
As ações da empresa despencaram quase 80% na bolsa de valores na última quinta-feira, depois que a empresa publicou comunicado.
Corretoras e casas de análise começam a mudar as recomendações sobre as ações da companhia.
O Santander, o BTG Pactual e o Bradesco são os mais impactados nos níveis de lucro líquido e patrimônio com o caso.
Concorrentes beneficiadas
O economista Celso Bissoli julga que a situação favorece as empresas concorrentes no mercado de varejo. “A Americanas tem cerca de 15% de participação no e-commerce brasileiro. O Mercado Livre, Magazine Luiza e Via devem ser as empresas que mais vão incorporar essa fatia de mercado”, explica.
Fonte: G1, Celso Bissoli e Estadão.
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