Conta de energia força indústrias a subir preços de produtos
Manutenção da bandeira vermelha na tarifa tem pressionado empresas a aumentar preços de produtos, inclusive alimentos
A elevação do custo da energia elétrica está obrigando empresas a aumentarem os preços, provocando efeitos inflacionários que chegam ao bolso do consumidor. É o que avalia o engenheiro eletricista e empresário Carlos Jardim Sena, especialista no setor de energia elétrica.
Os efeitos na economia doméstica, segundo ele, podem ser sentidos, mas não explicam o endividamento familiar, que se manifesta como um somatório do encarecimento de diversos produtos e serviços.
“Então, a conta de energia, especificamente, ela leva ao endividamento? Talvez não, mas o somatório da conta de energia com mais o impacto do preço da energia em toda a cadeia produtiva, com certeza”.
Neste mês, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) manteve a bandeira vermelha para a conta de luz, com um custo adicional de R$ 4,46 a cada 100 kWh consumidos, como ocorreu em outubro.
A justificativa, segundo a agência, é devido ao cenário desfavorável para a geração hidrelétrica.
“Dessa forma, para garantir o fornecimento de energia é necessário acionar usinas termelétricas, que têm custo mais elevado, justificando a manutenção da bandeira vermelha patamar 1”, afirma Sena, que ressalta também o reajuste de 15,53% nas tarifas da energia elétrica ocorrido no Espírito Santo neste ano, em agosto, como um fator de impacto nas contas.
Além disso, ele cita um problema em nível nacional na operação do sistema elétrico que tem levado o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a despachar as usinas termelétricas, mais caras, para garantir a estabilidade do sistema.
O especialista explica que, por um lado, existe uma sobreoferta de geração de energia renovável em determinados horários do dia e, por outro lado, há uma falta de estabilidade no sistema, que é causada pela variação da carga em relação à geração.
“Quando você olha a confiabilidade dessa oferta, ela traz incerteza. E o ONS atua de uma forma conservadora, restringindo a geração renovável e acionando usinas mais caras, com geração mais estável”, explica.
Juros são o que mais pesa
Em relação à atividade industrial e aos projetos das grandes indústrias, o que pesa mais no cálculo é a taxa Selic, diz o engenheiro eletricista e especialista no setor elétrico Carlos Jardim Sena.
O custo da energia, diz Sena, é um dos itens que se considera na viabilização de um projeto, porém, a taxa Selic a 15% ao ano atrapalha muito mais do que o custo da energia.
Sena ainda aponta o reajuste no encargo setorial, que é a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), como outro fator que impulsiona a elevação do custo da energia e provoca impactos.
“Ela sofreu uma variação em relação ao ano anterior de 34%. Um salto para quase R$ 50 bilhões esse ano. Para cada um bilhão de acréscimo na conta, você tem um impacto na tarifa em torno de 1%. Então isso também onera a tarifa.”
Um ressarcimento de R$ 7 bilhões a geradoras de eólica e solar, por prejuízos a uma restrição de geração, também vai impactar tarifa.
Saiba mais
Bandeira vermelha
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou na última sexta-feira que a bandeira tarifária para novembro será vermelha patamar 1.
Com essa sinalização, fica mantido o custo adicional de R$ 4,46 a cada 100 kWh consumidos, como ocorreu em outubro.
O cenário, segundo a Aneel, segue desfavorável para a geração hidrelétrica, devido ao volume de chuvas abaixo da média e à redução nos níveis dos reservatórios.
Dessa forma, para garantir o fornecimento de energia é necessário acionar usinas termelétricas, que têm custo mais elevado, justificando a manutenção da bandeira vermelha patamar 1.
Endividamento
A energia elétrica é um dos itens que estão pesando no bolso do consumidor, avalia Carlos Jadrim Sena. Mas o endividamento se deve à soma dela com a inflação em geral.
A conta de luz acaba impactando o preço dos alimentos, dos serviços de uma forma geral e, somado ao preço de outros itens, como água, internet e condomínio, por exemplo, colabora para a dificuldade das famílias de pagarem as contas.
Negócios
O custo da energia é um dos itens que se considera na viabilização de um projeto, diz Sena. Porém, o que pesa mais no cálculo da viabilidade econômica de um projeto é a taxa básica de juros, a taxa Selic, mantida em 15% pelo Comitê de Política Monetária (Copom) desde setembro deste ano.
Fontes: Agência Brasil e Carlos Sena.
MATÉRIAS RELACIONADAS:
Comentários