China aumenta para 125% tarifas dos EUA e dólar cai após retaliação
O mercado esteve atento a guerra de tarifas entre Estados Unidos e China, que escalou nesta semana
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O dólar recuou mais de 1% no início desta sexta-feira (11), em reação ao anúncio da nova retaliação da China aos EUA em 125% e a perspectiva da escalada nas tensões comerciais entre os dois países.
Às 9h11, o dólar à vista caía 1,12%, a R$ 5,8327 na venda. Na quinta (10), o dólar fechou em forte alta de 0,91%, cotado a R$ 5,897, e a Bolsa caiu 1,12%, a 126.354 pontos.
O mercado esteve atento a guerra de tarifas entre Estados Unidos e China, que escalou nesta semana. A cautela se sobrepôs à euforia da véspera, quando o presidente Donald Trump anunciou uma pausa parcial de 90 dias na imposição de tarifas retaliatórias a dezenas de países.
Em postagem na rede Truth Social na quarta, Trump anunciou encargos de 125% para produtos do país asiático, em retaliação às medidas de Pequim. Agora, a soma total é de uma sobretaxa de 145% , afirmou a Casa Branca.
Ele chegou a dizer que a decisão é com base na "falta de respeito que a China tem demonstrado aos mercados mundiais" e que, "esperançosamente", Pequim irá perceber "que os dias de exploração dos EUA e de outros países não são mais sustentáveis ou aceitáveis".
As duas maiores economias do mundo estão em cabo de guerra desde quarta-feira da semana passada, 2 de abril, quando Trump tornou o tarifaço público. Inicialmente, a China seria taxada em 34%, além do piso básico de 10% para todas as importações que chegam aos EUA e de outras tarifas impostas ao país asiático ao longo dos últimos três meses.
Pequim, em resposta, replicou com tarifas da mesma magnitude. Trump, então, subiu a régua para 50% caso a retaliação não fosse suspensa, levando o montante total a 104%. Pequim não recuou. Pelo contrário: aumentou as taxas sobre os EUA para 84%, o que culminou nos encargos de 125% anunciados por Trump na quarta.
O porta-voz do Ministério do Comércio chinês, He Yongqian, disse que o país "seguirá até o fim" se os EUA insistirem em seu próprio caminho e que a porta está aberta para o diálogo, contanto que ele seja baseado em respeito mútuo. Já Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, disse que a China não irá recuar.
Trump, em entrevista, repetiu que não descarta um acordo com a China nem um encontro com o líder chinês Xi Jinping, a quem classificou como "uma das pessoas mais inteligentes do mundo", que "sabe o que tem que ser feito".
"Acho que o presidente Xi é um cara muito inteligente e acho que vão acabar fazendo um ótimo acordo para os dois [países]", disse no Salão Oval da Casa Branca.
O foco das negociações, no entanto, está direcionado a países como Vietnã, Japão e Coreia do Sul.
Especialistas alertam que a escalada tarifária pode ter consequências profundas na economia mundial. É esperado que o comércio internacional sofra um baque com as tarifas, o que pode afetar o crescimento econômico dos países mais afetados.
No caso dos norte-americanos, o choque tarifário também afeta a cadeia produtiva doméstica, o que pode aumentar a inflação enquanto a economia desacelera. Esse cenário leva o nome de "estagflação", isto é, quando os preços sobem e a atividade fica estagnada.
Segundo análises do banco JPMorgan, o tarifaço elevou os riscos de uma recessão global e dos Estados Unidos de 40% para 60% em apenas uma semana. Já a diretora-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Ngozi Okonjo-Iweala, disse que, com a guerra de tarifas, o comércio entre China e Estados Unidos pode diminuir em até 80%, resultando em uma queda de 7% no PIB global.
"Dado que o atual cenário é bastante danoso tanto para a economia americana quanto a chinesa, esperamos que eventualmente algum acordo seja feito. Entretanto, não esperamos uma reversão tão rápida no curto prazo", diz André Valério, economista sênior do Inter.
A escalada entre chineses e norte-americanos também respinga no Brasil dada a exposição do país a commodities, cujo maior mercado consumidor é a China. Com a visão de uma economia prejudicada pela escalada tarifária, a expectativa é que Pequim consuma menos matérias-primas, especialmente petróleo e minério de ferro, dois grandes componentes da balança comercial brasileira.
Por outro lado, Trump recuou na aplicação de tarifas recíprocas para países específicos, que agora serão taxados em 10% durante os três meses de pausa.
Canadá e México serão os únicos isentos da taxação linear porque foram alvo de alíquotas de 25% sobre boa parte dos seus bens, anunciadas em fevereiro por Trump, que seguem valendo. Os impostos de 25% para importação aos EUA de aço e alumínio também permanecem em vigor.
Questionado porque mudou a posição anterior de "não pausar" as tarifas, o republicano afirmou que algumas pessoas estavam ficando "nervosas, assustadas".
Segundo jornais americanos, foi a volatilidade do mercado interno e externo, incluindo a liquidação de títulos do Tesouro americano, que levou Trump a recuar nas taxas. O presidente foi alertado por parlamentares sobre o risco de recessão e a queda contínua de Bolsas pelo mundo.
O choque tarifário apresentado na semana passada causou turbulência nos mercados globais, que nos últimos dias registraram perdas de trilhões de dólares em ações. Houve, ainda, um forte movimento de venda de títulos do Tesouro americano e queda acentuada nos preços do petróleo.
O recuo levou os índices de Wall Street às alturas: o S&P 500, referência das ações americanas, fechou em alta de 9%, enquanto o Nasdaq Composite saltou 12%. Foi o melhor dia do S&P 500 desde 2008 e o maior ganho do Nasdaq desde 2001.
Na visão da analista sênior Ipek Ozkardeskaya, do Swissquote Bank, investidores esperam que essa pausa dê aos países tempo suficiente para renegociar, reorganizar as cadeias de suprimentos e suavizar o choque tarifário.
"Isso é fundamentalmente positivo, independentemente de as tarifas serem aplicadas ou não. Ter tempo para elaborar um Plano B é um presente, mas eu não abriria a champanhe ainda." Ela pondera que as incertezas irão persistir, mas que a recuperação pode se estender "se Trump puder ficar quieto por alguns dias e deixar o mercado digerir as notícias".
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