Mais concursos públicos com vagas para a área de tecnologia
Com mais de 300 robôs já em operação no serviço público, especialistas alertam que concursos devem priorizar cargos altamente qualificados nos próximo
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A reposição de servidores nos próximos anos tende a não ser limitada por meio de concursos públicos, segundo especialistas. Eles relatam que o uso de Inteligências Artificiais (IAs) tendem a causar reduções nas vagas de concursos, o que por outro lado também deve ampliar as oportunidades para profissionais de áreas de tecnologia.
Tálita Perim, advogada cível e trabalhista, relata que a possibilidade de automação de cargos que desempenhem tarefas de menor complexidade devem se tornar cada vez mais comuns no setor público.
Atualmente, mais de 300 robôs já são utilizados pela iniciativa pública, e o governo estadual divulgou, em fevereiro, resultados sobre o uso de 90 robôs em 11 órgãos públicos, que integram cinco secretarias do Estado.
“Foram ferramentas criadas para atender as maiores dores dos órgãos envolvidos, mas esse número de 90 não é o limite. Outros robôs serão planejados para atender outras demandas reprimidas”, explica o subsecretário de Estado de Transformação Digital, Victor Murad.
O subsecretário explicou ainda que os robôs não irão substituir totalmente os humanos no setor público, mas que seu uso pode reduzir o número de vagas em concursos futuros.
Apesar disso, as vagas que seguirão sendo abertas para concursos exigirão cada vez mais qualificação. “Apesar da exigência da sociedade, há um limite para o enxugamento da máquina pública, que se for ultrapassado a qualidade do serviço começa a cair”, lembra o doutor em administração Arlindo Carvalho Rocha.
Especialista em transformação digital, Arthur Igreja aponta que até o perfil do gestor público deve passar por alterações.
“A barra vai subir em relação a que tipo de governante executivo será necessário. Vamos precisar de gestores profissionais de fato, que façam parcerias e usem tecnologias, mais parecidos com as demandas que a iniciativa privada tem”, expõe.
Risco de colapso
O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) enfrenta um déficit histórico de servidores, que hoje supera os 23 mil cargos vagos. Este problema, amplamente reconhecido pela própria autarquia, tem influenciado em diversos fatores, sendo o principal o grande volume de aposentadorias não acompanhadas por reposições adequadas.
O último concurso realizado para o INSS aconteceu em 2015, o que representa um período considerável sem reposição significativa de pessoal.
Além da falta de concursos, o INSS enfrenta outra grande dificuldade: a cessão de servidores para outros órgãos da administração federal. Entre 2020 e 2024, a autarquia perdeu, em média, 9 mil servidores por ano, o que equivale a um número quase 200% superior ao déficit atual.
Em 2024, a Advocacia-Geral da União (AGU) foi o órgão que mais absorveu servidores do INSS, com mais de 5 mil cedidos.
O Ministério da Previdência Social (MPS) e a Presidência da República também receberam um grande número de servidores, com 2.941 e 222, respectivamente.
Se os 9 mil servidores cedidos estivessem alocados no INSS, o déficit da autarquia poderia ser reduzido em até 40%. O Instituto foi demandado, mas não se manifestou até o fechamento desta reportagem.
O número
23 mil cargos vagos há no INSS
Novas vagas abertas para se antecipar a aposentadorias
A previsão de mais aposentadorias nos próximos anos é parte dos motivos pelo qual prefeituras, governo estadual, governo federal e até a Assembleia Legislativa planejam realizar concursos com vagas no Estado.
A Assembleia Legislativa, por exemplo, relata que 82 servidores estão aptos a solicitar a aposentadoria voluntária, e pelo menos três deles vão atingir a idade para aposentadoria compulsória até o dezembro do ano que vem.
“Concursos públicos são parte do planejamento estratégico da Assembleia para fortalecer áreas importantes e garantir o serviço público mais eficiente. Além da sua importância para repor os servidores que vão se aposentar, esses concursos também tem como objetivo aprimorar o trabalho de assessorias temáticas, para dar melhor suporte técnico às atividades parlamentares”, informou a Ales, em nota.
Segundo a Assembleia, a saída dos servidores aposentados pode impactar setores que contam com profissionais experientes, e por conta disso os concursos são uma forma de antecipar a reposição e garantir a continuidade na qualidade dos serviços prestados.
O primeiro processo seletivo do Legislativo Estadual deve publicar o edital ainda neste mês. Estão previstas cerca de 32 vagas para os cargos de procurador, consultor e técnico sênior, com salários entre R$ 4.200 a R$ 13.700, de níveis médio e superior.
Nas prefeituras do Estado, logo após o período eleitoral do ano passado, uma série de prefeitos, dentre eleitos e reeleitos, informaram que há planos de realização de concursos públicos em seus municípios.
“A Guarda de Linhares está há 12 anos sem concurso e 25% do quadro tem mais de 60 anos. Vamos analisar o número de vagas que serão necessárias”, disse, na época, o prefeito de Linhares, Lucas Scaramussa (Podemos).
Contratação temporária mais frequente em prefeituras
O número de servidores dobrou no País em todas as esferas e poderes de 1995 a 2022, mas esse avanço foi maior nos municípios, com crescimento de 220,5%. E prefeituras têm recorrido cada vez mais aos trabalhadores temporários.
Em 20 anos, entre 2003 e 2022, passou de 38,5 mil para 716,2 mil o total de servidores públicos sem vínculo definitivo em todas as esferas de governo, segundo o Anuário da Gestão de Pessoas do Serviço Público, de 2024, do Instituto República.org. Os temporários representam 7,2% desse total.
Esse tipo de admissão temporária pelo Estado foi permitido por lei federal para suprir lacunas, como licenças médicas, atração para locais de difícil acesso, recenseamento, epidemias e projetos especiais, mas está se tornando uma prática comum.
Jessika Moreira, diretora-executiva do Movimento Pessoas à Frente, diz que a tendência é aumentar o uso de temporários no seto público. Ela cita pesquisa preliminar feita em Pernambuco que mostra que um servidor estatutário ganha 140% a mais que um temporário.
Análise
“Reforma tributária acirra o desafio”
A aposentadoria em larga escala de servidores vem ocorrendo desde 2019 e representa um desafio significativo à administração pública, especialmente diante da implementação da nova Reforma Tributária. Com a saída de profissionais experientes, o setor público tende a enfrentar perda expressiva de capital humano especializado, prejudicando a eficiência e comprometendo áreas estratégicas.
A tendência é que os remanescentes sofram com a sobrecarga de serviço e haja aumento temporário das despesas públicas, com a necessidade de novos concursos, contratação emergencial ou até terceirização, justamente em um período em que a busca é pela maior eficiência fiscal e contenção de gastos. Não se trata apenas da perda de profissionais, mas sim um impacto financeiro elevado que prefeituras, por exemplo, podem sentir com maior ênfase.”
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