Casagrande: ação de Trump pode gerar desemprego e redução da atividade econômica
Governador classificou ação do presidente americano como "tentativa de intervenção nas instituições brasileiras"
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O governador do Espírito Santo Renato Casagrande (PSB) classificou como "tarifa política e ideológica" e "tentativa de intervenção nas instituições brasileiras" a ação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em aplicar uma tarifa de 50% sobre os produtos importados do Brasil. Como consequência, o governador acredita que a ação pode gerar desemprego e redução da atividade econômica.
A declaração foi dada em uma coletiva de imprensa, realizada nesta quinta-feira (10).
Assim como fez nas redes sociais, Casagrande afirmou que a taxação "é um absurdo da forma como foi apresentada" e disse que a ação precisa ser contestada e classificada como inaceitável por parte do governo brasileiro e pelos brasileiros.
"Não há conexão com a realidade e as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, que sempre foram respeitosas. Essa é uma tarifa política e ideológica, uma tentativa de interferência nas instituições brasileiras. Não podemos aceitar", afirmou.
No ponto de vista econômico, Casagrande analisou que o Brasil precisa "contar até 10" e observar o cenário com "calma". "É preciso ter cautela e paciência para não entrar em uma guerra de tarifas e entrar no jogo do presidente Trump. É preciso que o país analise e avalie qual a melhor medida e se será necessário a aplicação de reciprocidade", disse.
Ainda segundo o governador, a medida atinge diretamente os capixabas. "O Espírito Santo é atingido diretamente. Com maior custo de exportação, pode haver redução da exportação de produtos como o aço, o café, petróleo, pedras ornamentais, gengibre, macadâmia, frutas... Podemos buscar outros países ou o mercado interno, mas isso pode gerar desemprego e redução da atividade econômica. É preciso o bom senso, mas defender a soberania do nosso país", afirmou.
O governo do Estado também se manifestou, por meio da Secretaria de Desenvolvimento do Estado (Sedes), que disse “lamentar a mistura entre política e decisões econômicas no comércio internacional”, e disse que a decisão de Trump representa um desafio.
Empresários reagem
Já a indústria capixaba adotou tom duro. Em nota, a Findes classificou a taxação de 50% como “extremamente severa e arbitrária” e que “rompe com os princípios fundamentais que regem o comércio internacional”. “É inaceitável que decisões comerciais sejam tomadas com base em disputas políticas internas, desconsiderando os impactos concretos sobre economias inteiras”, afirmou em nota.
O Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Estado (Sindiex) manifestou “profunda preocupação” sobre o anúncio e destacou a importância, da consolidação do acordo comercial entre o Mercosul e União Europeia, “como forma para ampliar a inserção do Brasil em mercados estratégicos”.
Já a liderança do agronegócio no Espírito Santo, o presidente da Federação de Agricultura (Faes), Júlio Rocha, classificou a taxa de 50% aos produtos brasileiros anunciada pelo presidente Donald Trump como “exorbitante”.
Para Rocha, a tarifa é “fora da curva” e, apesar de os americanos serem importantes para a taxa de exportação do Brasil, a medida pode acabar sendo mais negativa para os próprios estadunidenses.
“A princípio, acho que ele está puxando brasa para debaixo dos pés, pois são muitos países que serão atingidos por essas tarifas e toda ação corresponde a uma reação”.
Leia Mais: Entenda ponto a ponto a carta que Trump enviou a Lula anunciando tarifa de 50%
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Governo Lula se reúne para discutir o tema
O Governo Lula respondeu a carta de Trump dizendo que o Brasil “não aceitará ser tutelado por ninguém” e que a alta unilateral de tarifas sobre exportações brasileiras anunciada por Trump será respondida com base na Lei da Reciprocidade Econômica — que, aprovada pelo Congresso, prevê que o Brasil deve taxar quem também o taxa.
Lula convocou uma reunião de emergência com auxiliares para discutir o assunto, na noite de quarta-feira (09).
Pessoas envolvidas no assunto afirmaram que o governo fará uma discussão interna sobre como vai proceder. Estão na mesa desde a reciprocidade, ou seja, a elevação de tarifas na importação de produtos americanos, a quebra de patentes farmacêuticas e a cassação de licença na área de audiovisual, como filmes de Hollywood.
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