Trump impõe sobretaxa de 50% para o Brasil e cita julgamento de Bolsonaro
Presidente americano ainda cita cobranças tarifárias e não tarifárias do Brasil que seriam injustas na visão do republicano
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Dias após pôr em curso uma ofensiva para defender Jair Bolsonaro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu impor uma sobretaxa de 50% ao Brasil e citou o aliado político na carta enviada ao presidente Lula (PT) nesta quarta-feira (9).
Segundo Trump, a tarifa extra será imposta, em parte, devido aos "ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos".
Trump afirma que a forma como o Brasil tem tratado Bolsonaro é uma "vergonha" e que o julgamento contra o ex-presidente é uma "caça às bruxas que precisa ser encerrada".
O presidente americano ainda cita cobranças tarifárias e não tarifárias do Brasil que seriam injustas na visão do republicano. Ele afirma haver déficit com o país —mas os EUA na verdade têm superávit comercial com os brasileiros.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convocou uma reunião de última hora nesta quarta-feira (9) com os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), além do vice-presidente Geraldo Alckmin, para discutir a decisão dos EUA.
Produtos importados pelos EUA do Brasil são sobretaxados atualmente em 10%, tarifa anunciada por Trump em 2 de abril. Ou seja, além das tarifas de importação já cobradas, há uma cobrança adicional de 10%. Essa alíquota será substituída pela de 50% a partir de 1º de agosto.
Um exemplo é o caso do etanol, de acordo com interlocutores. Os americanos impunham uma tarifa de 2,5% ao produto, elevada a 12,5% após a sobretaxa de 10%. Com o novo anúncio, a porcentagem sobe a 52,5% em agosto.
A sobretaxa não é adicionada a produtos que já sofrem tarifas setoriais, como aço e alumínio, sobre os quais há tarifas de 50%.
Setores brasileiros atingidos pela sobretaxa, como plásticos, agro, carnes, têxtil, calçados e café, afirmaram ter sido pegos de surpresa pela medida e defenderam uma negociação por vias diplomáticas e o distanciamento do Brasil de questões geopolíticas.
Trump determinou que seja aberta uma investigação com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974. A apuração permite que os Estados Unidos imponham tarifas sobre quem violar acordos comerciais, o que pode deixar o Brasil sob ameaça de novas cobranças, de sobreaviso, por tempo indeterminado. Esse mecanismo foi usado para impor impostos à China no último mandato de Trump.
No domingo (6), Trump indicou que poderia elevar taxas ao Brasil quando ameaçou impor 10% adicionais aos países do Brics, alegando que o bloco ameaça a soberania do dólar. O republicano, porém, subiu o tom ao vincular as sobretaxas à situação política de Bolsonaro.
Na semana passada, Trump teve uma reunião com assessores em que tratou só da situação brasileira e traçou uma estratégia para pressionar o governo brasileiro e o STF a recuarem no julgamento contra Bolsonaro. A estratégia foi colocada em prática na segunda (7) com uma postagem de Trump defendendo o ex-presidente. Depois, foi reiterada por integrantes do governo, como mostrou a Folha.
"A forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!", escreveu Trump na carta desta quarta.
Trump fala em ordens "secretas e ilegais" emitidas contra plataformas de mídia nos Estados Unidos e violação à "liberdade de expressão de americanos". Esse trecho se refere a decisões do STF que miram empresas de redes sociais americanas, como a plataforma de vídeos Rumble e a rede Truth Social, de Trump.
"Por favor, entenda que o número de 50% é muito menos do que o necessário para termos o campo de jogo nivelado que devemos ter com seu país. E isso é necessário para retificar as graves injustiças do regime atual", afirmou Trump.
Em seguida, o presidente americano adicionou um trecho de praxe que tem enviado aos demais países dizendo que, se o Brasil estiver disposto a construir fábricas e produtos nos EUA e abrir o comércio, as tarifas serão revogadas. O americano ainda avisa que, se o país impuser tarifas retaliatórias, os EUA responderão com porcentagem equivalente adicionada aos 50% cobrados pelas importações.
"Como você sabe, não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas dentro do seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos tudo o possível para obter aprovações de forma rápida, profissional e rotineira —em outras palavras, em questão de semanas."
Mais cedo nesta quarta, antes de mandar a carta, o presidente americano afirmou que o Brasil "não tem sido bom para nós, nada bom" e disse que divulgaria a tarifa até esta quinta.
Na terça (8), a crítica indireta ao Brasil foi feita quando Trump reforçou a ameaça de cobrar mais tarifas de importação de países que compõem os Brics. O grupo, afirmou Trump, tem a intenção de "destruir o dólar", o que justificaria a imposição de sobretaxas de 10% além das que já foram estabelecidas.
"O Brics foi criado para desvalorizar nosso dólar. Qualquer um que esteja no Brics receberá uma cobrança de 10 %", disse ao responder a jornalistas durante reunião do seu gabinete na Casa Branca.
"O dólar é rei. Vamos mantê-lo assim. Se as pessoas quiserem desafiá-lo, podem. Mas terão que pagar um alto preço. Não acho que nenhum deles vai pagar esse preço", afirmou o presidente. Segundo ele, a cobrança começaria "logo".
Inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o Brics foi ampliado recentemente para 11 países e representa quase metade da população mundial e cerca de 40% do PIB.
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