Azul planeja comprar a Gol
Empresa se prepara para fazer proposta pela concorrente, e especialistas avaliam que passagens devem ficar ainda mais caras
Escute essa reportagem
A Azul planeja fazer uma proposta para comprar as operações da Gol. Caso a transação se torne realidade, o preço das passagens aéreas pode ficar mais alto, segundo especialistas ouvidos pela reportagem.
Informações de bastidores apontam que a Azul já teria contratado dois bancos de investimento para ajudar a decidir pela aquisição de uma parcela ou pela totalidade da concorrente.
Caso a compra se confirme, ela deixaria o País com apenas duas companhias aéreas em operação. O economista Ricardo Paixão cita que a Azul passaria a ter 63% do mercado. “Mas essa operação poderia ser boa devido ao atual colapso financeiro da Gol, que está em recuperação judicial nos Estados Unidos”, lembrou.
Essa concentração do mercado teria impacto direto no aumento dos preços das passagens. Outro fator destacado são os custos do segmento, que são elevados.
“Seria uma loucura, principalmente para um país do porte e potencial do Brasil. Os preços das passagens já são altos, e isso aumentaria ainda mais. Não existe lógica o Cade aprovar uma coisa como essa”, avalia o economista Marcelo Loyola Fraga.
O Cade citado por Fraga é o Conselho Administrativo de Defesa Econômica e precisaria aprovar a compra. Para o economista Heldo Siqueira Júnior, o órgão pode proibir a aquisição caso ela venha a ferir o interesse dos consumidores.
Para o advogado especialista em Direito Empresarial Felipe Finamore Simoni, não há obstáculos no caso de envolver apenas duas companhias. “Neste mercado, algumas empresas detêm participação em outras e operam por meio de acordos 'codeshare’ (no qual duas ou mais aéreas compartilham o mesmo voo)”.
Em nota, a Azul afirmou que “até o momento, não negociou nem aprovou transação específica”, mas que “está sempre atenta às dinâmicas estratégicas do setor aéreo e a possíveis oportunidades de parcerias, podendo como prática regular contratar consultores para apoiar a empresa nesses esforços”.
Já a Gol informou que nenhuma negociação foi iniciada.
Entenda
Passagens mais caras
Segundo apuração da Agência Estado, com base em fontes que preferiram ficar no anonimato, a Azul teria contratado o Guggenheim Securities, banco de investimento da Guggenheim Partners, e o Citigroup, para ajudar a decidir pela compra de uma parcela ou mesmo pela totalidade da Gol.
Especialistas avaliam que as chances são maiores para um aumento do preço dos bilhetes aéreos, caso a compra da Gol pela Azul se confirme. A justificativa ancora-se, principalmente, no aumento da concentração do mercado de aviação brasileiro. Atualmente, apenas as duas companhias e a Latam operam voos no País.
Estratégia
Não é a primeira vez em que a Azul faz um movimento do tipo. Em 2021, a empresa aérea apresentou uma proposta para ficar com o controle da operação da Latam no Brasil.
Na época, o grupo passava pelo processo de Chapter 11, equivalente nos Estados Unidos à recuperação judicial do Brasil, e o mesmo pelo qual passa a Gol atualmente. Contudo, a Azul recuou da proposta por considerar o negócio muito caro.
Curiosamente, a Azul vive uma situação financeira delicada e também poderia ter apelado para a recuperação judicial nos Estados Unidos, mas não o fez por uma questão societária: para que não haja uma diluição da participação do fundador David Neeleman.
Segundo analistas, a Azul estaria se posicionando de forma estratégica como compradora para não ser comprada.
MATÉRIAS RELACIONADAS:
MATÉRIAS RELACIONADAS:
Comentários