Alacero Summit 2025: aumento em gasto militar é o “novo normal” no mundo
Após décadas de recuo, investimento em Defesa volta a crescer, no que deve ser tendência, em todo o planeta, segundo o especialista Stuenkel
O mundo entra em uma fase de tensões geopolíticas mais permanentes, e os gastos militares, que haviam recuado durante o período de estabilidade pós-Guerra Fria, voltam a crescer, numa realidade que veio para ficar.
Foi o que disse Oliver Stuenkel, professor adjunto de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) e especialista em potências emergentes, durante o Alacero Summit 2025, evento anual do setor realizado em Cartagena das Índias, na Colômbia, com cobertura da Rede Tribuna.
Stuenkel disse que, entre 1990 e 2010, a participação dos investimentos militares no Produto Interno Bruto (PIB) global caiu de 3,75% para 2%, enquanto a atenção se voltava a melhorias sociais e expansão econômica. “Agora volta a haver mais gasto em defesa, uma nova lógica da globalização”, observa.
O cenário global mudou radicalmente desde o período de 1990 a 2015, marcado pela hegemonia única dos EUA após a queda da União Soviética e por uma política de integração das grandes potências. Essa estratégia permitiu a ascensão da China e a criação de um sistema global hiperglobalizado, no qual multinacionais estruturaram cadeias de valor que se mantiveram funcionando mesmo em conflitos regionais limitados.
“É o novo normal, mas tem um precedente muito frágil”, afirma Stuenkel, ao destacar que o consenso liberal com a China terminou em 2015, quando os EUA passaram a perceber ambições geopolíticas próprias no país asiático.
A América Latina, embora historicamente com baixo investimento militar — em parte por não se esperar conflitos longos — precisa se preparar para o novo contexto global. A invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 exemplifica a mudança estrutural:
“A independência da Rússia era muito maior em 2022 e isso permitiu que ela invadisse a Ucrânia, algo que ela já queria havia tempos”.
O especialista ressalta ainda que os países latino-americanos enfrentam desafios adicionais. Há pouca interação entre intelectuais, setor privado e governos. São Paulo, Chile e México, por exemplo, “falam muito pouco do que ocorre nos países”.
Essa falta de diálogo compromete a cooperação necessária para enfrentar produtos altamente subsidiados, tarifas como nos EUA e até crimes organizados que exigem coordenação internacional.
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