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Luiz Trevisan

O pior e o melhor time


“Na escola, começamos com ABC, no futebol, também somos ABC, nosso time não conhece derrota, empate não interessa, nosso caso é vencer, vencer, vencer...” Assim começa o hino do “glorioso” ABC, time amador criado em Cachoeiro em fins da década de 1960. O autor do hino, João Pedro Campos, era um dos zagueiros daquela esquadra que, no entanto, ao contrário do que exaltava seu hino, raramente saia de campo sem uma derrota, maioria delas acachapantes.

Para ilustrar a saga de fracassos do ABC, basta lembrar uma partida contra o Júpiter, formado no bairro dos Ferroviários, e que contava com um astro que justificava o nome do time, Alcenir, que fora centro-avante do Estrela do Norte, jogou em outros times, teve convite do Flamengo e outras equipes. Um dos seus memoráveis feitos foi marcar dois gols no Botafogo, então o melhor time brasileiro, ao lado do Santos de Pelé, em uma partida amistosa, em 1961, num Sumaré lotado.

Anos mais tarde, envergando a camisa do Júpiter, Alcenir comandava mais um massacre contra o ABC. Ali pelos 4 a 0, Alcenir esfriou, pediu para sair, e o jogo se arrastou naquele placar até o final. O que foi motivo de alta comemoração. Assim que terminou o jogo, o técnico do ABC, Tararaca, entrou radiante em campo cumprimentando efusivamente seus comandados. Neném, um desavisado lateral que acabara de estrear no time, quis saber o motivo de tanta alegria do técnico mesmo diante da goleada. Tararaca, então, resumiu numa frase a evolução do ABC pelos gramados cachoeirenses: “Pô, no jogo passado contra esse time, perdemos de 12 a 0”.

A própria escalação da equipe embutia algumas comicidades, como o dedicado “Arroz” no comando do ataque. Com uma proeminente barriguinha, não tinha faro algum de gol, intimidade nenhuma com a pelota. Porém, como contribuía financeiramente e se empenhava na organização do material – jogo de camisa, bolas, etc. – comandava um ataque inútil. Logo depois, virou o técnico, mas insistia em jogar. Na ponta-direita – havia ponta, naquela época – Teté encolhia subitamente quando descia da bota salto alto para calçar chuteiras. Ele passou muito tempo às turras com seu colega de time “Arroz”, por conta de um gol de barriga após cobrança de escanteio. Ambos reivindicavam a autoria daquele tento insignificante, pois o rival já tinha enfiado oito.

Ou então era a escalação de um lateral direito míope, Bininho, com o qual o goleiro Jessé, estreante, insistia em sair jogando, para deleite de um esperto atacante adversário, que encaçapou dois gols em menos de cinco minutos. “O zinco tá cantando, vai nele Bininho!”, cobrava Zé Henrique, outro defensor do ABC, já no desespero. E Bininho, tentando enxergar a bola, fazendo a alegria da torcida adversária.

E não faltavam trapalhadas, confusões. Não se sabe como, Marcos, que conseguia a façanha de ser reserva do ABC, foi escalado para apitar uma partida da equipe contra um time do bairro Noventa. Lá pelas tantas, partida chegando ao fim, e na ânsia de ajudar o ABC fazer pelo menos o gol de honra em outra goleada, Marcos parou uma jogada no meio de campo e apontou a marca do pênalti, explicando candidamente: “Lá no início do jogo, empurraram meu irmão Teté na área, agora é pênalti...”

Como tudo na vida evolui, o ABC também foi em frente. E logrou alguns êxitos, poucos, é bem verdade, pois gradativamente a equipe começou a ser enxertada com jogadores de melhor nível. Alguns deles com passagem pelo Estrela e Cachoeiro, e que recebiam uma espécie de cachê dos comerciantes e contabilistas mantenedores do time. A fundação da equipe havia resultado de uma frustração partilhada entre João Pedro, irmãos e amigos, e por um motivo esclarecedor de tanto insucesso: como nenhum deles conseguia vaga nos times amadores da cidade, criaram um time para chamar de seu.

Até hoje o renomado contabilista cachoeirense José Henrique Barbosa, que foi zagueiro cheio de estilo e participação decisiva nas jornadas do ABC, anima os amigos lembrando causos dentro e fora dos gramados. “A gente perdia muito, éramos zoados, mas se divertia bastante”, arremata. Tempos atrás, saiu na imprensa que o “Reizinho do Recanto”, acusado de tráfico, foi fulminado por três tiros. Pois o time do ABC foi fundado naquele mesmo Recanto, bairro onde o único “rei” conhecido era o cantor Roberto Carlos, que nasceu ali e nunca foi bom de bola, mas certamente teria uma vaga naquela equipe.

Mais recente, quando o River Plate fez 1 a 0 no Flamengo, Bininho, botafoguense, mandou mensagem via zap zoando: “O zinco tá cantando, e esse técnico Jesus parece o Arroz kkkkkk”. Engoli seco, mas a vingança, com requintes de crueldade, veio nos três minutos finais daquela memorável partida. No mais, foi apenas uma extremada e divertida comparação entre o pior e o melhor time.

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