Desabafo musical da capixaba Gabriela Moulaz
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Com o primeiro EP da carreira em produção, a cantora e compositora Gabriela Moulaz, 19, transita por diferentes vertentes da música, como pop, R&B, soul, indie e rap.
Mesmo assim, o tom pessoal das letras é o que ela acredita que dá personalidade às suas canções.
“Todas as minhas composições são sobre coisas que já vivi. Elas sempre vão ser sobre a minha perspectiva ou uma metáfora sobre o que já vivi”, explica a artista.
Prova disso estão nos singles que Gabriela lançou. O último deles se chama “Pussy”, um feat com a rapper capixaba Numar Fantecele. Esse foi o primeiro trap gravado pela cantora. Como sugere o título, é uma música cheia de atitude. Mas não só isso.
“A faixa foi lançada no Dia Internacional das Mulheres. Tivemos a ideia do trap porque é um gênero cheio de atitude“, explica ela sobre a música cantada em três idiomas: português, inglês e italiano.
Como professora de Inglês, o domínio do idioma também se reflete nos lançamentos de Gabriela. Das seis faixas que a cantora soltou até o momento, três delas são na língua inglesa.
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Todas têm clipe. “City Lights”, por exemplo, foi gravada durante uma viagem de carro que a capixaba fez para o Uruguai.
“É uma experiência que quero reviver! Viajamos na virada do ano de 2019 para 2020. Foram dois dias de viagem, com uma parada apenas em Curitiba”, lembra.
Porém, foi durante essa road trip que a capixaba foi vítima de racismo pela primeira vez. “Sabia que existia racismo, mas nunca havia sentido na pele. Senti na viagem. Quando cheguei a Curitiba, não queria sair na rua”, conta ela.
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Dessa experiência nasceu “Não Sinta Pena de Mim”. Com quase 2,5 mil visualizações, o clipe foi lançado em junho do ano passado. Nela, Gabriela canta logo no início: “Não sinta pena de mim / Não vou mudar / Eu nasci assim”.
“A música serviu como um desabafo. Eu nunca penso muito sobre o que vou falar. As palavras só vêm. É o meu jeito de esvaziar. Além disso, ela foi composta logo quando surgiu o episódio do George Floyd”, diz ela, referindo-se à morte do afro-americano morto em maio do 2020 por um policial.
É dessa forma, unindo assuntos pesados e suas vivências, que Gabriela dá seus primeiros passos na carreira artística. Fã das estrelas Ariana Grande e Amy Winehouse, ela aposta suas fichas no seu primeiro EP. “Ele é do meu coração. Vai ser a coisa mais pura de mim”.
“Estamos celebrando o poder feminino”
AT2 Acabou de lançar o single “Pussy”. Qual mensagem quis passar com a música?
Gabriela Moulaz A ideia foi do produtor WK. Ele e a Numar trouxeram essa ideia há algum tempo. Sempre quisemos trabalhar juntas. E divulgar o single no Dia Internacional da Mulher é melhor, porque estamos celebrando o poder feminino na sociedade.
Qual a sua relação com a Numar e o WK?
A Numar é de Vila Velha. A gente se conhece desde 2019. Sempre quisemos trabalhar juntas. E eu gravo com WK há muito tempo. Desde a minha primeira produção.
“Pussy” é bem diferente das músicas que você já lançou...
Tivemos a ideia do trap porque é um gênero cheio de atitude. Além de trazer isso na letra, quisemos trazer no gênero também. Esse é o meu primeiro trap.
Eu nunca digo nunca. Sempre tento trazer elementos das minhas inspirações. E, como trap entrou na minha vida, acho que no futuro posso voltar a fazer.
Quais são suas influências?
Ariana Grande, Aurora, Amy Winehouse e a banda Queen. Queen, eu nasci escutando. A Aurora é uma inspiração na interpretação musical. A Ariana, no vocal. Cada um deles traz um pouco. Mas sempre tento buscar a minha singularidade.
Começou a carreira em 2019. Ser artista sempre foi algo que desejou?
Sempre foi uma vontade minha, nunca tive dúvidas. A minha primeira composição foi aos 7 anos. O meu avô é louco por rádio, meu pai tocava violão.
No início, escrevi uma música e me chamaram para produzir. Ela se chama “Caos”.
O que sentiu quando saiu o seu primeiro clipe no ar?
Visualmente, eu amei, mas, com a voz, eu ainda ficava insegura. Falava que precisava melhorar. Com o tempo, eu fui melhorando. Além disso, fui tendo mais experiência de estúdio.
Dá para perceber que você tem uma identidade visual muito forte. De onde vem?
Sempre fui muito antenada e gosto muito de moda. E sou atriz também.Tenho muita referência estrangeira, não só musical. Queen, por exemplo, tinha vestimentas incríveis. A Ariana e Aurora também. Todo mundo tem essa identidade muito forte.
Disse que foi vítima de racismo. Como foi para você?
Foi um choque para mim. O meu pai é negro e nunca tratou disso comigo. Esse não era um assunto abordado dentro de casa.
Eu tive uma amiga que sempre teve essa discussão. Eu falava que não sabia que cor eu era. Quando coloquei trança, foi quando vi pela primeira vez o que acontecia. Andar sozinha na rua não foi legal, não.
Qual o futuro da sua música? Pensa seguir em um estilo só?
Sempre penso no pop, porque é uma das minhas inspirações. Mas penso em não me limitar no mundo musical. Acho que é arte é isso: experimentar o que está ao nosso alcance para contar a nossa história.
E o EP? O que pode adiantar?
Ele não vai ser só um EP musical. Vai ser visual também. A história vai ser contada de duas formas, com love songs e músicas dançantes. Então, depende de onde você vai estar nele. E todas as músicas serão cantadas em português.
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