Diretor de hospital diz ter medo de colapso
Escute essa reportagem
O Diretor Clínico do Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), o antigo São Lucas, em Vitória, Albano Siqueira, disse que tem o temor de um colapso na unidade. E que, por isso, o corpo clínico se mobilizou para montar um relatório que aponta uma série de fragilidades no dia a dia do hospital.
O relatório, ao qual a reportagem de A Tribuna teve acesso, foi encaminhado, segundo Albano, à administração do hospital, ao Conselho Regional de Medicina no Espírito Santo, à Assembleia Legislativa e à Associação Médica do Estado (Ames).

Presidente da Ames, o médico Leonardo Lessa Arantes, que também atua no HEUE, compartilha de um temor pela iminência de colapso: “Estamos próximos a isso. Só não ocorreu (ainda) pela forte parceria das equipes médicas com o hospital. Mas está próximo do limite. Em alguns casos, além”.
“O HEUE está trabalhando com sobrecarga. As equipes médicas estão subdimensionadas e sob forte pressão em atender todos os traumas da Grande Vitória e ainda lidar com Covid-19”, completou.
Segundo o diretor clínica do HEUE, “tem que fazer malabarismo para colocar todos os pacientes para fazer diálise” na unidade. Esse, inclusive, é um dos pontos do relatório, que indica que há “necessidade de aumentar o quadro de funcionários” e que houve um aumento de demanda, por conta da pandemia, de sessões em pacientes na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), “uma vez que a lesão renal aguda é uma realidade na evolução” de Covid-19.
Albano Siqueira acrescentou que não há “um estoque adequado de sedativos” e que em abril o HEUE “bateu recorde de cirurgias”. O relatório pede que haja a “adequação de um setor específico no hospital para comportar pacientes com síndrome respiratória aguda, suspeitos de Covid-19, que não necessitem” de UTI.
O texto relata ainda a necessidade de “aumento do dimensionamento de equipe de enfermagem, especialmente na UTI Covid”. Segundo Albano, o ideal seriam dois enfermeiros para atender 10 leitos – hoje há um. “E um aumento de cinco para sete técnicos de enfermagem para cada 10 leitos, pensando em cada plantão”.
O hospital também precisa de mais um clínico 24 horas para suprir a demanda do setor de Covid-19. “Já trabalhávamos no limite. Temos que tomar cuidados sanitários que exacerbam a sobrecarga. Precisamos de melhorias para levar uma assistência mais segura”.
Sesa afirma que negocia contratações de servidores

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) emitiu uma nota dizendo que a direção do Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), em Vitória, não vê, até o momento, indícios de colapso no atendimento.
Questionada por telefone pela reportagem, a assessoria informou que a visão seria do diretor-geral, Paulo Czrnhak.
Em nota, a Sesa afirmou que houve reunião com a equipe assistencial e a direção do HEUE que tratou dos assuntos mencionados e se mantém “à disposição dos prestadores de serviços médicos”.
A pasta admitiu que já está em tratativas para ampliação do quadro de colaboradores “visando fortalecer as equipes assistenciais”. No entanto, no mesmo comunicado, falou que “o atual número de colaboradores, a equipe profissional da unidade, já atende a demanda do hospital”.
Segundo a Sesa, os pacientes com Covid-19 e que não fazem parte do perfil da unidade são cadastrados no Sistema de Regulação de Leitos do Estado para transferência a uma unidade de referência.
Lembrando que o que o HEUE é uma unidade de porta aberta e de 24h para atendimento ao trauma, o governo do Estado disse que “o hospital atende os requisitos necessários, de acordo com os órgãos oficiais de saúde para o atendimento de pacientes com Covid”.
A pasta negou, em nota, que há falta de insumos ou de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e garantiu que os serviços prestados “se encontram assistidos”.
Comentários