Por que mais pessoas estão confiando em moedas que não existem no bolso?
Moedas digitais como o Bitcoin cresceram justamente nos períodos de maior instabilidade global

Quando se fala em guerra comercial, muita gente pensa logo em briga entre países, aumento de tarifas, produtos importados mais caros ou manchetes sobre China e Estados Unidos disputando espaço no mundo. Tudo isso é verdade. Mas tem um outro lado, menos visível e cada vez mais importante: o impacto no bolso do cidadão e na forma como as pessoas protegem o seu dinheiro.
Nos últimos anos, os conflitos econômicos entre grandes potências, as sanções aplicadas à Rússia, as barreiras à exportação de energia e tecnologia e a alta do dólar fizeram muita gente olhar para alternativas ao sistema financeiro tradicional. E uma dessas alternativas tem nome: criptomoedas.
Mesmo com todas as dúvidas que ainda cercam esse tipo de investimento, moedas digitais como o Bitcoin cresceram justamente nos períodos de maior instabilidade global. Isso acontece porque elas funcionam de forma descentralizada, ou seja, sem depender diretamente de bancos centrais ou governos, e podem ser vistas como uma forma de proteção em tempos difíceis.

Países como Turquia e Argentina, que enfrentam inflação alta e desvalorização da moeda local, são exemplo disso. Nessas regiões, o volume de compra e venda de criptomoedas disparou nos últimos anos. Muitas pessoas recorreram a essas moedas digitais como uma maneira de guardar valor e escapar das oscilações do sistema tradicional.
Um relatório recente da empresa Chainalysis mostrou que os lugares com maior dificuldade econômica ou regras rígidas para movimentação de dinheiro foram justamente os que mais adotaram criptomoedas. Isso mostra como, em tempos de portas fechadas nos mercados convencionais, o mundo digital acaba abrindo novas janelas.
Na Rússia, depois da invasão à Ucrânia e das sanções impostas por outros países, empresas e cidadãos também passaram a usar moedas digitais para manter suas operações e pagamentos internacionais. Mesmo com o aumento da fiscalização, esse episódio deixou claro como os criptoativos podem servir como válvula de escape em momentos de crise.
Por outro lado, as guerras comerciais também colocam pressão sobre esse mercado. Muitos governos passaram a apertar o cerco sobre as corretoras de criptomoedas e as chamadas stablecoins, moedas digitais com valor atrelado ao dólar, como USDT e USDC, por medo de evasão fiscal, fraudes e movimentações suspeitas.
Ao mesmo tempo em que reforçam a presença do dólar mesmo em ambientes digitais, essas moedas impulsionam debates sobre soberania monetária. A China, por exemplo, já desenvolve o yuan digital para tentar diminuir sua dependência do sistema financeiro global, e isso pode abrir um novo capítulo nessa disputa.
No fim das contas, o que tudo isso significa?
Que as criptomoedas deixaram de ser um tema restrito a especialistas em tecnologia. Elas passaram a ocupar espaço nas conversas sobre economia, política internacional e até estratégias de governo. Em um mundo cada vez mais instável, esses ativos digitais se tornam mais do que uma aposta: são uma tentativa de proteção.
Claro, não existe milagre. O mercado é volátil, a regulação muda o tempo todo e o risco faz parte do jogo. Mas ignorar essa tendência já não é mais possível.
Entender o papel das criptomoedas em meio às tensões globais pode ser um passo importante para qualquer pessoa, seja um pequeno investidor ou alguém apenas tentando proteger o que tem. Porque, no fim das contas, essa história não é só sobre tecnologia. É sobre futuro. É sobre você.
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