Contra lockdown, dono de salão viraliza com corte de cabelo pela grade
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Dono de um salão de beleza na cidade de Rosario, Emilio Sguazzini, 72, decidiu fazer uma espécie de performance para protestar contra as novas restrições sanitárias impostas pelo governo argentino para tentar conter o coronavírus.
Agora, segundo as medidas em vigor desde sábado (22), podem ser realizadas apenas atividades consideradas essenciais, como venda de alimentos e de remédios.
Outros tipos de comércio, como restaurantes, por sua vez, só estão autorizados a funcionar para entregas ou retiradas: a pessoa telefona, reserva o produto e vai buscá-lo na loja, que deve estar semi-fechada.
Diante da impossibilidade de trabalhar, Sguazzini colocou do lado de fora de seu estabelecimento uma das cadeiras usadas para atender clientes e pediu que uma funcionária se sentasse nela. Em seguida, simulou um corte de cabelo por meio da grade metálica que fecha o local. A imagem, claro, viralizou.
"Recebemos mensagens até de gente da Suíça", conta o filho de Sguazzini, Lucas. "Fizemos isso como um protesto, mas com bom humor. É para mostrar a hipocrisia das medidas, que permitem a alguns setores atender pela janela, enquanto outros têm de ficar fechados. Fomos prejudicados desde o início da crise."
Não foi só nas redes sociais que a ação de Sguazzini teve repercussão, e alguns salões de beleza resolveram imitar a manifestação, tanto em Rosario como em Buenos Aires.
Cabeleireiros ficaram fechados no ano passado durante seis meses. Depois, foram autorizados a atender com número reduzido de clientes e reserva de horários. O aumento da curva de casos de Covid-19 na Argentina nas últimas semanas, porém, levou o governo do presidente Alberto Fernández a voltar à fase 1 das restrições em áreas consideradas em emergência sanitária, caso da região metropolitana de Buenos Aires e de outras grandes cidades da Argentina, como Rosario.
Hoje, o país ostenta 733,95 novas infecções diárias por Covid a cada 1 milhão de habitantes, de acordo com dados do Our World in Data. O Brasil, para comparação, exibe 306,48 casos/1 milhão. Há dois meses, esse índice, na Argentina, era de 162,63/1 milhão. Ao todo, são 3,51 milhões de contaminações.
Em relação a mortes, o país registrou no domingo a marca de 11,19 óbitos por dia a cada 1 milhão de habitantes (2,49/1 milhão há dois meses). Desde o início da crise, a Argentina registrou 73.688 mortes.
Sguazzini, cabeleireiro há 55 anos, diz que não vai atender clientes de verdade, pois "isso é contra a lei".
"Mas acho importante mostrar às autoridades que nosso setor sofre demais com essas medidas." Dos seis funcionários que tinha, afirma ele, quatro tiveram de ser demitidos desde o começo da pandemia. "Fomos autorizados agora apenas a vender produtos por delivery, como xampu e tratamentos capilares. Mas é óbvio que não dá para manter o negócio assim. Nosso forte é o corte de cabelo".
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