Como fica atendimento para quem tem carro da Ford
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A Ford anunciou o fechamento das fábricas no Brasil, na última segunda-feira, e encheu de dúvidas os consumidores e donos de veículos da marca.
Tanto que a empresa criou uma seção com perguntas frequentes em seu site oficial para orientar esse consumidor e afirmou, por meio de nota, que, mesmo sem a fábrica no País, as peças para os veículos da marca vão continuar sendo produzidas. Além disso, toda a assistência técnica continuará disponível.
“É preciso esclarecer que as atividades da Ford no Brasil não acabaram. O que muda é que não haverá mais veículos fabricados aqui, mas as vendas continuam normalmente”, garantiu Apolo Figueiredo Rizk, diretor do Grupo Contauto, concessionária da Ford na Grande Vitória.
Rizk explicou que dois modelos produzidos no Brasil vão sair de linha: o Ford Ka e o Ecosport.
“Porém, eles vão continuar sendo vendidos até terminarem os estoques. A Ford já confirmou lançamentos que serão importados no Brasil. Agora, a empresa vai trabalhar com carros premium, que são modelos maiores, bem procurados pelo público e que geram rentabilidade maior”, completou.
A mudança é global: em 2018, a montadora americana anunciou que só venderia utilitários e picapes nos Estados Unidos, tirando de linha sedãs e modelos compactos. No Brasil, quando os estoques do Ka e do EcoSport estiverem esgotados, o modelo mais em conta vendido pela marca será a picape Ford Ranger, produzida na Argentina e que custa a partir de R$ 154.090, segundo o site da marca.
Para as oficinas, a medida da Ford também não trará grandes mudanças. “Por enquanto, as montadoras vão continuar produzindo peças, porque há um grande número de veículos da empresa no mercado”, frisou o diretor do Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado (Sindirepa-ES), Wagner Xavier.
Ou seja, as oficinas não terão dificuldades para adquirir peças desses veículos.
O advogado especialista em Direito do Consumidor Guilherme Ribeiro afirma que a lei exige que o fornecedor continue oferecendo os meios para o conserto do produto, caso necessário. “Com base no artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor, a fabricante é obrigada a atender o cliente, oferecendo peças, reparos ou ressarcimento”, disse o advogado.
Manifestações
Vigília em fábrica
Funcionários das unidades da Ford em Taubaté (SP) e Camaçari (BA), que serão fechadas, fizeram manifestações na porta das fábricas e cobraram ajuda de autoridades para evitar demissões em massa.

Os funcionários da planta de Taubaté (SP), definiram o início de uma vigília por tempo indeterminado. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos, o fim das atividades da montadora representa um impacto de cerca de 10 mil empregos.
Saiba mais
O que prevê a lei
- De acordo com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), mesmo diante da descontinuidade dos produtos, a fabricante continua obrigada a atender o consumidor.
- Com base no artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), a entidade diz que o cliente tem direito de exigir do fornecedor o conserto do produto ou exigir o dinheiro quando a reparação não for possível.
- Mesmo com o fim da produção dos veículos no País, a Ford precisará continuar ofertando peças de reposição, a fim de evitar transtornos ao consumidor.
O que diz a Ford
- A Ford explica que estará ativamente presente no Brasil com sua Rede de Concessionários e continuará oferecendo assistência total ao consumidor com operações de vendas, serviços, peças de reposição e garantia.
- A empresa informa que não há mudanças na Rede de Concessionários, por enquanto. Ajustes futuros serão comunicados aos consumidores.
- Os Concessionários Ford continuarão vendendo unidades remanescentes da linha Ka e EcoSport até o final dos seus estoques.
- A montadora pontuou que novos produtos chegarão ao Brasil (como o Bronco, Transit e até a recém-chegada Territory) — vindos, por exemplo, da Argentina —, o que indica a manutenção das concessionárias.
Fontes: Ford, Idec e advogado Guilherme Ribeiro.
Maia defende reforma tributária
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), usou o exemplo do encerramento das atividades da Ford no Brasil para falar sobre a urgência da reforma tributária.
Segundo ele, a redução do número de tributos é um atrativo para competitividade nos países. A decisão da montadora afeta diretamente 5,3 mil empregados, que atuam em três fábricas que serão desativadas.
“Quando decidem sair do Brasil e continuar na Argentina e Uruguai merece um ponto de interrogação sobre o porquê disso. “Como um País da importância do Brasil é preterido por dois países importantes, mas que não têm a dinâmica econômica daqui?”, questionou.
Para ele, a situação deve jogar luz também no debate sobre os benefícios tributários concedidos pelo governo, juntamente com a reforma. “Será que benefícios de fato geram emprego no Brasil?”, questionou.
Dados do Ministério da Economia apontam que os incentivos tributários para os fabricantes de automóveis atingiram R$ 43,7 bilhões entre 2010 e 2020.
“Perdeu para a concorrência”
O presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou ontem a apoiadores que a Ford não disse a verdade sobre o fechamento dos parques fabris no Brasil.
“Mas o que a Ford quer? Faltou à Ford dizer a verdade: querem subsídios. Vocês querem que continuemos dando R$ 20 bilhões para eles como fizemos nos últimos anos, dinheiro de vocês, impostos de vocês, para fabricar carro aqui?”, perguntou o Presidente.
E ele mesmo respondeu na sequência: “Não. Perdeu para a concorrência, lamento.”
Depois de mais de 100 anos produzindo no Brasil, a Ford anunciou na segunda-feira o encerramento de sua produção de veículos no País. A decisão afeta as fábricas de Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE), mas a montadora segue com sua operação de vendas e assistência técnica no País, focando em produtos importados.
Bolsonaro afirmou que a saída da empresa ocorreu porque “em um ambiente de negócios, quando não se tem lucro, se fecha. Assim é na vida e na nossa casa”.
O Ministério da Economia disse ter iniciado conversas para apoiar a recolocação dos 5 mil trabalhadores da Ford que devem perder o emprego com a saída da montadora do Brasil.
Uma das possibilidades é a criação de um programa específico para ajudar esse grupo de trabalhadores altamente qualificados. A ideia é que outras indústrias investindo no Brasil possam aproveitar esses trabalhadores.
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