Sinal verde para a prevenção de acidentes na Saúde
Leitores do Jornal A Tribuna
A liberação do uso de máscaras no Espírito Santo tem sinalizado que a pior fase da pandemia de covid-19 está ficando para trás. Os momentos dramáticos vividos durante a maior tragédia humanitária de nossa história, no entanto, deixaram sequelas para os profissionais de saúde, sejam físicas sejam mentais.
Se, por um lado, eles foram os heróis da crise sanitária, suportando extensas jornadas, e, até mesmo, entregando suas próprias vidas num cenário similar aos de guerra. Por outro, é a hora desses trabalhadores cuidarem da própria saúde ocupacional, questões que estão em destaque neste mês, em que foi estabelecido o Abril Verde, de conscientização para a segurança no trabalho.
O objetivo é despertar a atenção da sociedade e debater estatísticas preocupantes. De acordo com dados apresentados pelo Ministério da Saúde, de 2019 a 2021, os acidentes laborais aumentaram em quase 50%.
Com a pandemia de covid, esse índice, desde 2020, triplicou entre os profissionais da enfermagem, por exemplo; muitas vezes, pela ausência de equipamentos de proteção individual, os EPI’s.
Essa falta de estrutura tem sido avaliada, inclusive, como um dos fatores que causaram mortes de trabalhadores da saúde que estavam atuantes durante a pandemia.
No caso dos médicos, de acordo com levantamento apresentado pelo Conselho Federal de Medicina, foram 893 óbitos em todo o País. No Espírito Santo, as estatísticas apontam para a perda de 35 profissionais da Medicina que estavam na linha de frente de combate à doença.
Nesse último caso, quando os médicos estão em foco, notamos que a categoria exerce uma atividade atípica. Enquanto está, constantemente, avaliando a capacidade laboral dos demais trabalhadores, a sua própria saúde é relegada a segundo plano.
Além desse fator, há a conjuntura adversa para o exercício da Medicina, em que o médico acumula vários vínculos, se submete a exaustivos plantões; muitas vezes, em locais sem infraestrutura adequada.
O ritmo estressante das jornadas de trabalho sem as devidas condições contribui para o abalo emocional dos profissionais, que lidam com o “poder” de salvar vidas, mas enfrentam perdas, a todo momento.
Nesse contexto, mesmo que a pandemia esteja controlada, o cenário calamitoso continua. Podemos citar, ainda, a superlotação das unidades de saúde e hospitalares, situação que é noticiada cotidianamente, causando estresse e adoecimento daqueles profissionais que precisam estar bem para cuidar, adequadamente, de seus pacientes.
Sabe-se que, nos últimos 10 anos, o número de médicos doentes tem aumentado. No entanto, não há estatísticas precisas sobre essa realidade no País, uma vez que a problemática não é encarada de frente e conta com a negligência dos órgãos públicos, que fazem vistas grossas à essa realidade.
Uma situação que precisa ser debatida; afinal, a saúde ocupacional dos médicos, assim como dos demais trabalhadores, precisa ser encarada como tão prioritária quanto a dos pacientes.
TÉLVIO VALIM é advogado, especialista em Defesa Médica
SUGERIMOS PARA VOCÊ:
Tribuna Livre,por Leitores do Jornal A Tribuna