Será o fim do homem soviético? O que a tragédia nos revela
Leitores do Jornal A Tribuna
Ésquilo foi um dos dramaturgos mais conhecidos da Grécia Antiga. Escreveu 79 peças, das quais sete sobreviveram na atualidade. Conhecido como o pai da tragédia, o autor levantou um tema caro aos gregos e persistente na história: a desmedida como causa do próprio aniquilamento e a dificuldade da moderação nortear o destino humano.
Em Os Persas, Ésquilo abordou a invasão persa da Grécia, ocorrida durante sua vida. Aliás, o conflito armado foi grande fonte de informação sobre este período helênico. Não há mitologia, mas fato histórico: a batalha de Salamina, ocorrida em 480 a.C., que marca o declínio persa nas chamadas Guerras Médicas. O embate entre Oriente e Ocidente é abordado numa atmosfera de pesadelo.
O texto serve como gancho para olharmos o atual conflito. Apreender flagrantes da era contemporânea traz um ponto consensual: conflitos armados sempre existiram e o que está em vigência entre Rússia e Ucrânia reorganiza a dinâmica econômica global na “fria guerra” entre Ocidente e Oriente.
Segundo o sociólogo Sérgio Abranches, o atual momento pode ser denominado como a Era do Imprevisto. O mundo do século 21 não é uma simples projeção ampliada do mundo do século 20.
Parafraseando a prêmio Nobel ucraniana Svetlana Aleksiévitch: será o fim do homem soviético? Vladimir Putin, autocrata russo, cria uma narrativa que permite uma réplica negativa. Por outro lado, o livro Por dentro do Nevoeiro, de Guilherme Wisnik, faz um contraponto interessante: terá chegado a hora do declínio ocidental?
Percorrendo os quatro ciclos históricos de expansão dos mercados desde o mercantilismo – A) o genovês (séculos XV e XVI); B) o holandês (XVI e VXII); C) o britânico (XVIII e XIX); e o norte-americano (XX e início do XXI) – a fase financeira desses ciclos, que sempre sucede uma primeira fase produtiva, representa não só o apogeu, mas também o “canto do cisne” de um ciclo sistêmico, correspondendo ao surgimento de um novo centro hegemônico.
O historiador Reinhart Koselleck compreende esta Era do Imprevisto como um momento de transição. Segundo ele, o passado-presente e o presente passado já não têm fontes de movimento. O presente e o presente-futuro estão em aceleração crescente.
A simultaneidade de fatos econômicos, sociais e políticos assincrônicos provoca situações de conflito cujas tentativas de solução, quando comparadas com os tempos passados, são experimentados como aceleração ou como crise.
Toda grande transição se manifesta como crise.
Com esses desafios postos à mesa, o correto é não tomar atitudes precipitadas quando o assunto é promover mudanças nos portfólios de investimentos com o intuito de antever o que está por vir. A melhor estratégia a seguir nesses momentos é ter caixa, se manter investido com uma boa diversificação na carteira, e manter a calma, inclusive visitando as páginas do dramaturgo Ésquilo.
Thiago Goulart é educador financeiro.
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