Remédios biológicos: avanços no tratamento de doenças crônicas
Coluna foi publicada nesta quarta-feira (18)
Leitores do Jornal A Tribuna
Criadas a partir de organismos vivos, entre eles bactérias e leveduras, as drogas biológicas vêm revolucionando o tratamento de doenças crônicas, controlando patologias autoimunes, como lúpus, psoríase, artrite reumatoide ou asma, que não respondem bem a medicações tradicionais, e até mesmo alguns tipos de câncer.
É que a atuação desses anticorpos monoclonais é como a de um míssil teleguiado: a droga entra no organismo e consegue localizar e neutralizar o mecanismo de uma doença complexa. Ou seja, o imunobiológico veio para resolver especialmente a situação dos pacientes graves, que não respondem aos medicamentos de primeira linha.
Os alvos podem ser substâncias endógenas, produzidas pelo corpo, caso de enzimas (que potencializam atividades celulares), de receptores (hormônios e neurotransmissores) e de citocinas (que dão respostas imunes). Assim, os imunobiológicos são uma maneira eficiente e avançada de tratar as doenças autoimunes, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.
No entanto, muita gente ainda sequer ouviu falar sobre esse tipo de terapia. Voltando no tempo para explicar, as pesquisas com imunobiológicos começaram nos anos 1980. O primeiro anticorpo monoclonal, produzido em 1986, tinha o objetivo de inibir a rejeição em pacientes transplantados. De lá para cá, o avanço foi contínuo e hoje esses remédios representam 18% da produção mundial de fármacos.
Até os anos 2000, um diagnóstico de esclerose múltipla, por exemplo, era praticamente uma sentença de incapacidade: o paciente sabia que em alguns anos provavelmente estaria cadeirante ou acamado. Hoje, temos uma baixíssima porcentagem de pacientes que evoluem assim quando existe acesso ao tratamento.
De acordo com levantamento feito pela Organização Mundial da Saúde, as doenças autoimunes atingem cerca de 65 pessoas a cada 100 mil indivíduos em todo o mundo. Só no Brasil, mais de 13 milhões apresentam algum tipo de manifestação autoimune. Ainda assim, muitas doenças autoimunes são diagnosticadas tardiamente, o que pode comprometer o tratamento.
Vale lembrar que a maioria das doenças autoimunes apresenta sintomas de dor e deformidade física, e é nesse contexto que entra o desempenho dos medicamentos imunobiológicos, uma vez que são capazes de reduzir esses sinais, melhorando vários incômodos.
Nesse cenário, acesso é uma palavra importantíssima. Estamos falando de medicamentos que têm altas taxas de eficácia e segurança, mas que ainda são caros.
O SUS hoje fornece o tratamento para pacientes que comprovam a necessidade em doenças como artrite reumatoide, espondilite, doença de Crohn, psoríase e asma grave. Mas muitos medicamentos ainda não estão disponíveis via SUS e não têm cobertura obrigatória pelos planos de saúde, como os novos imunobiológicos para lúpus eritematoso sistêmico.
Com a quebra das patentes e a produção nacional, a tendência é baixar o custo e ampliar o fornecimento. Enquanto isso, nosso trabalho é fazer a avaliação custo-benefício para que os recursos sejam usados da melhor maneira possível, ajudando o maior número de pacientes que pudermos.
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