Quando o médico deve parar?
Coluna foi publicada nesta segunda-feira (19)
Não existe uma data que limite o tempo de atuação de um médico. Tudo é uma questão de bom senso. É uma decisão individual e solitária, tanto para o clínico como para o cirurgião.
A única restrição se refere à aposentadoria compulsória, imposta ao médico, servidor público, a partir dos 75 anos de idade, no Brasil. As sociedades de especialistas brasileiros não oferecem diretrizes ou orientações sobre os diversos aspectos da longevidade profissional.
Sem obrigatoriedade, nos EUA, o Colégio Americano de Cirurgiões publicou uma declaração, em 2016, onde recomenda a realização de testes físicos, visuais e neurocognitivos para cirurgiões mais idosos. Ou seja, cabe não só aos cirurgiões como, também, aos médicos clínicos a realização de um check-up com consultas periódicas, além de cuidar da saúde física e mental.
Um fato fundamental é que o profissional médico nunca poderá expor o paciente ao risco, se não estiver apto a efetuar qualquer procedimento. Sabe-se que os médicos, principalmente se estiverem em idade mais avançada, dificilmente admitem ou mostram suas fragilidades.
Se os familiares, ou mesmo os colegas, detectarem algum déficit intelectual ou motor, a situação deve ser abordada, caso o próprio médico não consiga captar seus sinais ou sintomas comprometedores. No Brasil, o cirurgião plástico, Dr. José Badin, com mais de 90 anos, sentindo-se bem, ainda, operava normalmente.
O próprio profissional longevo precisa fazer uma autoavaliação periódica e se manter atualizado sobre as principais descobertas, mudanças e novas diretrizes dentro do seu campo de atuação, uma vez que, na prática, as entidades médicas brasileiras não possuem políticas ou programas para orientar os médicos que desejam envelhecer trabalhando.
O médico clínico e o cirurgião poderão se dedicar às atividades de ensino ou pesquisas, em idades mais avançadas, caso sintam alguma limitação física, que os impeça de atuar com segurança.
Existem profissionais que não podem parar de atuar, seja para manter o sustento familiar seja para encarar novos desafios.
Embora não exista limite de idade, o médico deve se preparar para parar de atuar, em algum momento de sua vida. No entanto, em sua essência, ele nunca deixará de ser médico, enquanto estiver vivo. Quando o médico perceber que não está bem ou não sente mais prazer em atuar na profissão, é hora de considerar o momento de parar.
Existem alguns sinais que um médico deve levar em conta para não mais exercer a profissão: a) declínio cognitivo; dificuldade em tomar decisões, esquecimentos freqüentes ou confusão mental; b) problemas de visão e audição; dificuldade de enxergar detalhes ou de ouvir conversas, podem afetar a capacidade de diagnosticar e tratar os pacientes; c) fadiga crônica; cansaço constante pode prejudicar a concentração e a habilidade de realizar procedimentos médicos; d) problemas físicos; dores crônicas, tremores ou fraqueza; e) desinteresse ou Burnout; falta de motivação, desinteresse pela profissão, etc.
Devemos lembrar que cada caso é único e é importante que o médico converse com colegas, familiares e profissionais de saúde para tomar uma decisão.