Sabemos que o surgimento de boa parte das doenças se dá em razão de más escolhas, que incluem alimentação inadequada, sedentarismo, vícios e outras causas, como predisposição genética e demais motivações das quais ainda não se tem claro conhecimento.

Além de todos esses fatores de risco citados, há um outro que, embora não seja lembrado tanta frequência, merece atenção: a exposição de agentes nocivos no ambiente de trabalho causadores das doenças laborais. E entre as que podem ser desenvolvidas nesses ambientes está o câncer. O risco de neoplasias consiste na exposição a agentes cancerígenos aos quais os trabalhadores estão submetidos.

Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou um levantamento chamado Atlas do Câncer Relacionado ao Trabalho no Brasil. O documento revelou que, entre 1980 e 2019, mais de 3 milhões de pessoas morreram no País por até 18 tipos de câncer que podem ter sido causados pela exposição a produtos, substâncias ou misturas presentes em ambientes de trabalho. 

Ao longo de 39 anos, o Sistema de Informações Sobre Mortalidade (SIM) registrou 3.010.046 óbitos decorrentes desses tipos de câncer. O resultado, segundo a equipe técnica, poderia ser menor caso mais ações tivessem sido feitas para controlar ou eliminar a exposição dos trabalhadores a agentes cancerígenos.

Entre essas 18 neoplasias que podem ser desencadeadas nesse contexto, uma delas é o Mesotelioma, um tipo de câncer de pulmão muito associado à exposição ao amianto em profissionais de minas de extração de amianto, construção civil, telhas, caixa d’água, indústria ferroviária e têxtil.

Os agentes cancerígenos responsáveis pelo câncer de bexiga, por exemplo, estão presentes em pelo menos 28 profissões, como as que estão ligadas à produção de alumínio, de tintas, ocupação de pintor e muitas outras.

Também podemos destacar o câncer de tireoide, que tem seu risco potencializado pela radiação em geral; o de laringe, causado pelo ácido inorgânico, tinta, gás de queima de combustíveis e pode atingir agricultores, trabalhadores da indústria têxtil, entre outras categorias.

Esses são apenas alguns exemplos. E quando se fala em riscos, precisamos reforçar a importância da prevenção que, neste caso, requer ações por parte das empresas que garantam segurança dos trabalhadores. Importante que haja remoção das substâncias cancerígenas do local de trabalho e a substituição dos compostos nocivos por outros mais seguros.

Quanto aos trabalhadores que atuam em ambientes mais vulneráveis, é fundamental que adotem um estilo de vida saudável, acompanhamento médico preventivo, que usem corretamente os equipamentos de segurança e denunciem qualquer irregularidade no local de trabalho que ameace a saúde. E principalmente: não ignorar sintomas que possam sinalizar alguma enfermidade.

Doenças laborais são evitáveis. Por isso, é necessário priorizar as formas de se combatê-las com a participação ativa de todos os envolvidos e responsáveis. 

VIRGÍNIA ALTOÉ SESSA é médica oncologista.