O laço branco e a masculinidade positiva
Um chamado à masculinidade responsável e ao fim da violência que limita a liberdade das mulheres
Leitores do Jornal A Tribuna
Noutro dia fazendo a caminhada matinal, aqui numa rua do bairro, e com minhas passadas mais largas, logo alcancei a mulher que também seguia à minha frente. E me bateu profundo a percepção que essa aproximação involuntariamente trazia algum temor para aquela jovem senhora.
Busquei reparar o incômodo abrindo mais espaço e me distanciando para lhe tirar o desconforto. E lhe assegurando toda integridade no seu direito de livremente utilizar o espaço público sem se sentir ameaçada.
Mas isso está acontecendo. E que espécie de gente nós homens nos tornamos a ponto de inibir que mulheres confiem dividir os lugares por onde passam, livres e seguras? Onde está nossa civilidade? Que papel exercemos? De que treva viemos? Somos ainda medievais? Ou negamos a nós mesmos, o grau da evolução que elas experimentam? Estamos assustados por elas ascenderem cada vez mais aos instrumentos de poder? Tanto nos espaços de decisões públicas como (e principalmente) na intimidade das relações cotidianas?
Recentemente ouvi o relato do líder dum grupo de tradicionais “peladeiros”, jogadores de time de várzea, que deu tremenda bronca num deles e suspendeu seu direito de jogar por seis meses, desde que tomaram conhecimento da atitude covarde de espancar a esposa em casa.
E a pena seria encurtada caso ele se apresentasse na delegacia e se autodenunciasse, além de pedir desculpas públicas à sua companheira, e na presença dos familiares de todos do grupo.
Pois bem. Nesse dia 6 de dezembro, nos dedicamos a campanha do laço branco, reunindo homens engajados pelo fim da violência contra mulheres. Exibir no peito o laço branco e tomar atitudes que ajudem reverter o triste quadro de barbárie, a que estamos submetidos. E provocar o debate. Nas rodas de conversas masculinas, nos bares, nos campos esportivos. Nas empresas e ambiente de trabalho, nas celebrações religiosas, nas escolas e nos currículos escolares. E na família, nas atitudes e compromissos do lar, entre homens e mulheres, jovens e adultos.
E nas DR’s. É nas tais “discussões das relações”, que se agravam as desavenças e quando machões se afloram de superiores, infelizmente com uso excessivo da força e variadas formas de violências.
No âmbito da política pública, vemos a Secretaria de Estado das Mulheres, com muitas iniciativas que buscam dar proteção e promoção para meninas e mulheres. Os Centros Margarida e os OPM’s - Organismos de Políticos para Mulheres nos municípios, por exemplo.
Com satisfação vemos o anúncio do Comitê Técnico de Promoção da Masculinidade Positiva, conceito novo e inovador, que de forma inédita avança com propostas e ações que incidam sobre a cultura do comportamento masculino nas relações de gênero. Precisamos falar com aqueles que via de regra, são os causadores de dores, violências e tragédias.
Política mais que necessária, reflexiva, humanista e civilizatória. Que atende ao quinto objetivo do desenvolvimento sustentável, da Agenda ONU 2030. Agenda da sociedade, com capacidade de articulação, mobilização e integração de setores públicos e privados. E então, vamos pôr o laço branco, abraçar e honrar o que ele representa?
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