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TRIBUNA LIVRE

O elefante

Coluna foi publicada no domingo (25)

Pedro Valls Feu Rosa | 26/08/2024, 11:36 h | Atualizado em 26/08/2024, 11:36
Tribuna Livre

Leitores do Jornal A Tribuna



          Imagem ilustrativa da imagem O elefante
Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo |  Foto: Divulgação

Nos idos de 1968 meu saudoso pai, então Deputado Federal, apresentou um requerimento ao Ministro da Fazenda. O objetivo era simples: saber quanto o país estava gastando com o pagamento dos juros sobre a dívida pública. A resposta: US$ 153 milhões.

Após lamentar tal estado de coisas, porquanto “as nossas indústrias e o nosso comércio estão enfrentando grandes dificuldades e muitas até mesmo fecham suas portas”, concluiu por pedir “providências enérgicas e imediatas para se por cobro a esse horroroso estado de coisas”.

Passou-se o tempo e chegamos a 2006. Naquele ano, calculadora à mão, apurei que os recursos destinados no orçamento nacional para custear toda a Previdência Social, a Assistência Social, a Saúde, a Educação, o Trabalho, a Reforma Agrária, a Segurança Pública, o Urbanismo, a Habitação, os Direitos da Cidadania, o Desporto e Lazer, a Cultura e até o Saneamento, somados, davam R$ 317 bilhões. Ou R$ 7,9 bilhões a menos do que pagamos a título de juros - só de juros - naquele ano.

Quatro anos depois noticiou-se que “o governo brasileiro gastou o equivalente a 45% do Orçamento de 2010 pagando juros”.

Segue a realidade do ano seguinte, 2011: “O governo gasta com juros atualmente mais do que o triplo do que despende com o Ministério da Educação”.

Alcançamos 2016, quando o Brasil reduziu em 23% seu gasto com juros em comparação com 2015 - e mesmo assim esse montante foi de R$ 407 bilhões. Naquele ano divulgou-se que este valor correspondia a 7,6% do Produto Interno Bruto, o quarto maior encargo dentre 183 países pesquisados. Só perdíamos para o Líbano (9,15% do PIB), Gâmbia (8,81%) e Iêmen (8,36%), países em situação de conflito e sob elevado risco de inadimplência.

Precisamente meio século depois do já distante ano de 1968 consultei o Jurômetro da FIESP: '2018 ainda está algo longe de acabar, mas já nos consumiu uns bons R$ 331 bilhões a título de pagamento de juros'. Esta montanha de dinheiro seria suficiente para construir 315.996 escolas. Ou 5.038.422 casas populares. Ou 110.117 km de ferrovias. Ou para conceder 1.245.056.683 benefícios do Bolsa-Família. Ou 798.883.341 cestas básicas.

Saudamos a aurora de uma nova década - mas não de uma nova realidade: “As despesas com juros superaram os gastos juntos, em 2023, dos Ministérios da Saúde, da Educação e do Desenvolvimento e Assistência Social - responsável pelo Bolsa Família”. O montante gasto: R$ 816,2 bilhões.

Agosto de 2024. Retornei ao Jurômetro. Já havíamos gasto, nos sete primeiros meses do ano, R$ 246 bilhões pagando juros - suficientes para construir 81.901 km de ferrovias ou 302 aeroportos.

Dizem ser muito fácil ocultar-se um elefante em uma plantação de morangos: basta pintar as unhas dele de vermelho. Deve ser verdade, já que temos passado as décadas a discutir a eliminação de direitos do bode expiatório, digo, do povo, e a entrega, digo, venda, do patrimônio público, a fim de que tenhamos mais recursos para nutrir o paquiderme dos juros - que segue em paz, longe dos holofotes.

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