Login

Esqueci minha senha

Não tem conta? Acesse e saiba como!

Atualize seus dados

ASSINE
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
ASSINE
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Assine A Tribuna
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo

TRIBUNA LIVRE

O convite ao ódio, o sim ao desamor, o abraço à servidão

| 07/06/2020, 08:10 h | Atualizado em 07/06/2020, 08:11
Tribuna Livre

Leitores do Jornal A Tribuna


Por que tantos se unem em torno do preconceito, da intolerância, do patrocínio da morte? Por que, em regime de liberdade, ajuntam-se para sufocar o livre arbítrio e instalar um sistema de opressão generalizada? Compartilho algumas possíveis respostas, num convite para se pensar um pouco sobre a banalização do mal, que recrudesce e nos alcança a todos num momento tão trágico para a humanidade.

Aqui, o bem e o mal, à parte de um debate conceitual mais amplo, referem-se a ações que nutrem uma existência civilizada e a atitudes que promovem a barbárie e o obscurantismo, respectivamente.

Comecemos pela “banalidade do mal”, elaboração de Hannah Arendt. Como algo corriqueiro, destituído de sua carga abjeta e vil e de suas conexões intrínsecas a sustentar a cultura do ódio, o mal encontra porteira aberta no desprezo às faculdades do espírito humano, constituído, também segundo Arendt, pelo “pensar, querer e julgar”.

O exercício autônomo e humanístico dessas capacidades intelectuais alcança desde o universo do sujeito em si (o que sou, quero e devo ser) até a inter-relação deste com seus semelhantes (o que somos, queremos e devemos ser), submetendo quereres e ações ao juízo e atribuindo um significado aos acontecimentos.

A negligência das habilidades do espírito inviabiliza, por exemplo, uma ética de responsabilidade a guiar nossa presença no mundo. Quando não nos colocamos como parte de um todo, nem nos implicamos fraternalmente nas consequências de nossas atitudes, abre-se o caminho para fazer do mal uma banalidade.

Se o mal em ato nasce de uma decisão pessoal, seria por que ele mesmo nos habita como uma possibilidade? Para Freud, somos criaturas estruturalmente agressivas, instadas a se civilizar pelo medo da extinção da espécie. “Em consequência dessa mútua hostilidade primária entre os seres humanos, a sociedade civilizada se vê permanentemente ameaçada de desintegração”.

Mas o que promoveria o enlace do potencial destrutivo que habita um com a vontade de maldade do outro, criando-se desumanidades em escala? “Evidentemente, não é fácil aos homens abandonar a satisfação dessa inclinação para a agressão. Sem elas, não se sentem confortáveis”, assinalou Freud.

Por isso, numa instrumentalização da ferocidade estrutural, “é sempre possível unir um considerável número de pessoas no ‘amor’, enquanto sobrarem outras para receberem as manifestações de sua agressividade”.

Étienne de la Boétie oferece uma explicação aterradora sobre o porquê das redes de opressão: “Contentam-se em tolerar o mal para poder exercê-lo – não sobre aqueles que os ferem, e sim sobre aqueles que, como eles, o toleram, mas são impotentes. Contudo, quando vejo essa gente servir ao tirano para tirar alguma vantagem da sua tirania, amiúde me espanta sua perversidade, e por vezes me causa dó sua tolice: pois, a bem da verdade, o que significa aproximar-se do tirano senão afastar-se de sua liberdade e, por assim dizer, agarrar com as duas mãos e abraçar a escravidão?”.

José Antonio Martinuzzo é pós-doutor em Mídia e Cotidiano, doutor em Comunicação e professor na Ufes.

SUGERIMOS PARA VOCÊ:

Tribuna Livre

Tribuna Livre, por Leitores do Jornal A Tribuna

ACESSAR Mais sobre o autor
Tribuna Livre

Tribuna Livre,por Leitores do Jornal A Tribuna

Tribuna Livre

Leitores do Jornal A Tribuna

Tribuna Livre