Lutar, acreditar e agradecer
Leitores do Jornal A Tribuna
A pandemia da covid-19 nos revirou do avesso, mudando e ressignificando valores, conceitos e até direitos como a liberdade de ir e vir. Muito se disse, inicialmente, que sairíamos melhores, transformados, mais solidários, e menos individualistas.
Que valorizaríamos mais a cultura da prevenção e a nossa interdependência enquanto seres humanos e parte de um todo que é a sociedade. Nem sempre é isso que percebemos ao olhar ao nosso redor. Mas uma lição de todo esse período tão desafiador é que, sim, precisamos do outro.
Basta uma reflexão bem simples para ver: muitos de nós e de nossos entes mais queridos precisaram confiar nas mãos e na habilidade de outro ser humano num momento extremamente difícil nesses dois anos de pandemia.
Quase sempre, esse outro nos era totalmente desconhecido, alguém que, sem saber o que a história nos reservaria, em algum momento, optou por uma profissão que tem o cuidado como sua razão de existir.
Neste caso, com a triste peculiaridade de não poder contar com a presença física de um dos nossos ou de ser a presença física para um dos nossos, limitados por uma necessidade de distanciamento e isolamento, vimos no profissional de saúde alento e esperança.
Ao atuar diretamente na área, mesmo numa posição de gestão, pudemos enxergar de perto o quanto isso custou. Alguns salvaram vidas, mas se foram. Outros tiveram que se privar da presença de filhos e de familiares por longos períodos. Todos em algum momento sentiram medo, cansaço, tristeza, impotência.
É senso comum que seremos todos, nos livros de História, personagens desse período de dor e luto. Mas ver e pensar o quanto os profissionais de saúde foram desafiados – e corresponderam a esse chamado – nos leva a concluir que outro sentimento merece ficar registrado nos textos, nas narrativas familiares, nas obras de arte, nos monumentos e no dia a dia de convivência: a gratidão.
Uma gratidão que tem que ser mais do que hashtag da moda que “viraliza” nas redes sociais.
Sabemos o quanto é preciso valorizar, respeitar e agradecer a esses profissionais no dia a dia. E buscamos isso. Mas há também a necessidade de representar esse sentimento para além de um universo, de certa forma, particular.
Nesse sentido, buscamos a arte, entendida como o espaço onde a alma se manifesta, num desejo que se tornou um monumento que hoje ocupa a orla de Camburi para que a gratidão que cada um sente esteja ali representada, de forma coletiva. Trata-se também de deixar para a posteridade uma prova de que, na distância e na presença, na dor e na doença, mãos se uniram pela vida, mãos se uniram em prece e mãos também se uniram para agradecer e reconhecer a importância desses heróis que tanto fizeram.
Lutar, acreditar e agradecer, enfim, nos parecem ser palavras-chaves dessa nossa existência. Palavras que fazem ou devem fazer parte de toda a trajetória humana, nos mostrando que o que temos em comum é mais forte e importante do que as diferenças que nos separam. Fica a suspeita de que o caminho para uma vida mais plena e para um mundo melhor passa por aí. O nome do monumento não poderia ser outro: gratidão.
Que a gente lute e acredite, mas que também seja grato. No passado, no presente e no futuro.
MAELY COELHO é diretor-presidente da MedSênior
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