O bem e a verdade não são monopólio exclusivo de ninguém: pertencem tanto à Igreja, quanto ao mundo secular: cada um, porém, na sua respectiva competência. No povo de Deus, como na sociedade civil, há diversidade de carismas e funções. O que é pedido aos cristãos é que ouçam à voz do Espírito Santo, que habita neles, e sejam coerentes com a fé, que professam.

Jesus fundou uma comunidade, aberta ao diálogo e à colaboração com todos os que procuram servir ao próximo, com honradez e dedicação. A autonomia da cultura e da ciência, isto é, a legítima secularidade, é perfeitamente compatível com a fé cristã. Não, porém, o secularismo, fechado à Transcendência.

“Eles partiram e pregaram por toda parte” – diz Marcos. Papa Paulo VI, na Exortação Apostólica, “Evangelii Nuntiandi” (1975), enfatiza a evangelização, como, a vocação própria da comunidade cristã e de seus membros: “É dever de todos os cristãos evangelizar, primeiramente, pelo anúncio, fiel e corajoso, de Jesus Cristo; anúncio – animado pelo amor e respeitoso das pessoas – que é um apelo à consciência de cada um para conhecer, amar, servir e seguir a Jesus Cristo, pois Ele é o único, que liberta e salva, e dá plenitude de vida e alegria”.

O Concílio Vaticano II (1962-1965) foi o primeiro Concílio, na história da Igreja, que tratou o tema dos leigos-cristãos: o fez na Constituição dogmática “Lumen Gentium” e, no decreto, “Apostolicam Actuositatem”. No pós-concílio, a Exortação Apostólica de João Paulo II, “Chistifideles Laici” (1988), na continuidade deste ensino, dirigiu-se aos leigos-cristãos, fazendo um vibrante apelo para eles se engajarem, ativa e generosamente, na irradiação do Evangelho no mundo: campo específico de sua missão é a família, o trabalho, a educação, a cultura e a vida política. “Missão sublime – sublinha o Papa – que não é uma “concessão” do clero, ou ditada pela urgência da missão, mas, vem dos sacramentos do batismo e da confirmação”.

Esta missão é tríplice. 1- Sacerdotal: Pelo sacerdócio comum, os leigos-cristãos são chamados a fazer de si mesmo uma “oferta espiritual de si mesmo a Deus e de serviço, humilde e generoso, ao próximo”. 2 – Profética: “Testemunhar, na vida secular, os valores do Evangelho”. 3 - Régia: “Elevar os relacionamentos em nossa sociedade, de selvagens a solidários, de humanos a trinitários,”. O documento conciliar “Gaudium et Spes” desdobra, com riqueza de pormenores, a missão específica dos leigos-cristãos, no mundo.

Jesus ordena: ”Remem mar adentro e lancem as redes para pescar”, isto é, anunciem a todos a Boa Nova de Jesus Cristo. No pós-concílio, em virtude da consciência que os leigos cristãos tomaram de sua missão no mundo, novas formas de movimentos e associações, surgiram. Nos países da América Latina, organizações populares de vários tipos foram fundadas, para fazer valer os direitos do povo e promover a justiça, a solidariedade e o bem comum. Testemunho de uma vida, coerente com os valores do Evangelho, é o que se requer, antes de tudo, do evangelizador. Específico dos leigos-cristãos é construir uma sociedade mais justa, livre e fraterna, sem oprimidos, nem opressores.

Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano |  Foto: Divulgação