Envelhecer não é, de forma alguma, voltar a ser criança
Leitores do Jornal A Tribuna
Com o processo de envelhecimento, o corpo começa a sofrer com limitações e comorbidades. Por isso, o idoso requer mais atenção, mas um dos cuidados importantes é evitar tratá-los como crianças. Dispensar carinho é fundamental e contribui para o bem-estar físico e mental dos nossos idosos, mas adotar uma comunicação infantilizada é prejudicial.
Infelizmente, muitos familiares, cuidadores e até alguns profissionais de saúde acabam agindo assim sem perceber, por isso é preciso ficar atento.
Para entender melhor esse processo, é preciso praticar a empatia. Imagine o quão constrangedor é para uma pessoa adulta ouvir: “Vamos pra caminha?”, “Hora de papar”, “Agora você vai tomar banhinho”, “Vamos limpar o bumbum?”.
Parece normal ou soa como algo completamente desconcertante? É como se toda a história vivida pelo idoso e tudo que ele construiu ao longo da vida não fossem compatíveis com a terceira idade. Infantilizar o idoso desconsidera sua autonomia, seu poder de escolha e até sua sanidade, colocando-o no mesmo nível de uma criança da primeira infância.
Usar palavras no diminutivo para se comunicar com um idoso faz com que a pessoa se sinta seriamente diminuída em sua autoestima e em sua autoconfiança.
Da mesma forma que não devemos tratar crianças como adultos, puerilizar a terceira idade é atribuir às pessoas mais velhas uma condição que não é delas.
Esse tratamento equivocado não contribui para o bem-estar, tampouco para a saúde física e mental da pessoa. E ainda pode desencadear quadros de depressão, melancolia, isolamento e agravar outras doenças que afetam a parte cognitiva.
O carinho deve ser respeitoso. É permitir que os idosos exerçam seus papéis de homens e mulheres que construíram uma vida, uma história e, no futuro, deixarão um legado. É permitir que tenham autonomia e independência, mesmo que sejam funcionalmente dependentes e precisem de ajuda para as atividades mais básicas. A necessidade de ajuda não deve desencadear o sentimento de impotência.
O idoso não é uma criança mais velha, mas alguém que passou pelas etapas da vida e continua a caminhar, com suas experiências acumuladas na sua longa trajetória. Não está ali à espera do fim, mas é alguém que merece desfrutar da vida e, muitas vezes, ter que aprender a se adaptar a novas realidades. Os filhos não se tornam pais. Podem se tornar cuidadores, mas continuam sendo filhos. E esse vínculo precisa ser respeitado.
Cuidado e bom senso são fundamentais. Precisamos cuidar, mas também saber ouvir, compartilhar, aprender. É perfeitamente possível dar carinho, atenção e cuidado sem descaracterizar a identidade e a personalidade do idoso. Assim, identificamos e respeitamos os limites entre o carinho e o desrespeito. Por trás das rugas e cabelos brancos, a velhice traz uma história que tem muito a nos ensinar.
GUSTAVO GENELHU é geriatra.
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