Desafios ao direito pela saúde pública universal e de qualidade
Leitores do Jornal A Tribuna
Recentemente, o universo médico acompanhou com satisfação a aprovação da Anvisa para o uso de terapias gênicas no tratamento de cânceres hematológicos. Sem dúvidas, a chegada desse tipo de terapia avançada é uma excelente notícia e comprova que a evolução científica que observamos pode nos dar esperança de um futuro com menos doenças e, mesmo para as que existirem, com tratamentos mais efetivos.
No entanto, enquanto as novidades da medicina avançada merecem ser saudadas, uma pergunta permanece no ar: o que isso significa para o grande contingente populacional brasileiro, que em sua maioria absoluta depende do Sistema Único de Saúde, que apresenta limitações para a atualização de tecnologias, maquinário e medicamentos?
Esse é um questionamento necessário. Estudo recente divulgado pela Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) indica que as estatísticas brasileiras sobre o linfoma mostram resultado preocupante.
Entre os pacientes com linfomas do tipo Hodgkin, 60% receberam o diagnóstico precocemente, ou seja, com a doença em grau de estadiamento 0, I ou II. Esse índice fica mais baixo para o linfoma tipo não-Hodgkin: 53%.
As consequências do grande número de pacientes que recebem diagnóstico de linfoma em estágio avançado são uma menor efetividade do tratamento, menores chances de cura e maior custo para o SUS. Em média, cada sessão de quimio ou radioterapia custa aos cofres públicos R$ 11 mil.
O Observatório da Oncologia indica ainda que, quanto mais avançada a doença no momento de seu diagnóstico, mais caro fica o tratamento. No caso dos linfomas, os tratamentos para graus de estadiamento III e IV têm um custo 34% maior do que o dos casos precocemente diagnosticados.
Todos esses dados indicam que há um gargalo para o acesso à saúde no Brasil, configurado na dificuldade enfrentada pelos pacientes para o acesso a consultas e exames eletivos.
Os números revelados pelo estudo são preocupantes no que diz respeito à quantidade de mortes por linfoma no Brasil. Entre 2010 e 2019, ao menos 48.839 pessoas morreram em função da doença.
Ainda há um longo caminho na promoção de um acesso mais igualitário à saúde no Brasil. A estruturação de uma melhor rede de atenção primária e investimentos para aumentar a celeridade das consultas e exames eletivos, se configuram como medida imperativa para que nosso sistema de saúde consiga salvar mais vidas.
Com essas medidas, o País pode diminuir as perdas humanas para os cânceres hematológicos e também, graças a tratamentos menos extensos, poupar recursos para prestar um atendimento ainda melhor à sua população, ingressando num círculo virtuoso desejado pela população e por profissionais de saúde.
DOUGLAS COVRE STOCCO é hematologista.
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