Como explicar o valor da gasolina?
Leitores do Jornal A Tribuna
Em um passado recente, em meio à primeira onda da Covid-19, o litro de gasolina podia ser encontrado em postos de combustíveis na Grande Vitória por algo em torno de R$ 4. Hoje, após vivermos dois anos de pandemia e sofrendo impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia, o cenário é bem diferente. Encontramos as bombas abastecidas com gasolina acima de R$ 7 o litro.
Você já deve ter se perguntado por que no início da pandemia a gasolina custava quase metade do que custa hoje. A famosa lei da oferta e da procura tem uma pequena parte nisso, mas a resposta, de fato, não é nada simples.
Muitos brasileiros foram doutrinados a pensar que a produção nacional de petróleo é suficiente para atender a todas as demandas internas e não possui relação com o mercado internacional.
Quando o presidente Getúlio Vargas, o mesmo que em 1953 criou a Petrobras, exclamou: “O petróleo é nosso”, não considerou que, para transformar o óleo bruto em combustível, várias etapas de um longo processo de produção precisariam ser realizadas, e nosso País não dispunha de tecnologia para isso.
Ainda hoje, as centenas de poços de petróleo, exploradas por outra centena de plataformas onshore e offshore, dependem de muitos componentes que não são produzidos no Brasil. Além disso, tanto para a instalação quanto para a manutenção dessas plataformas, os insumos devem ser adquiridos em transações internacionais, que são fortemente impactadas pela desvalorização do real frente ao dólar.
Outro ponto muito importante é que, embora nosso país produza óleo bruto capaz de satisfazer nossas necessidades, boa parte do combustível refinado, ainda é importado de países parceiros. Várias outras nações que exploram o petróleo passam pelo mesmo problema.
As dificuldades comerciais enfrentadas nos últimos anos foram acentuadas na pandemia. Com isso, muitos contratos foram quebrados, afetando ainda mais o preço dos combustíveis. Quando boa parte das atividades econômicas já estava sendo normalizada, uma bomba impactou o mundo. A guerra da Rússia contra a Ucrânia provocou o mais recente grande impacto no preço da gasolina.
Há ainda outro importante fator para se considerar, em termos históricos. O atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, garantiu a independência da Petrobras enquanto Sociedade de Economia Mista, não influenciando na política de preços dos combustíveis. Isso permitiu à gestão da empresa que os preços sejam definidos segundo parâmetros econômicos utilizados pelo mercado internacional.
Se, por um lado, essa decisão satisfaz as necessidades do mercado financeiro, por outro, afeta diretamente o bolso da população brasileira. Um dos reflexos, somado a outros fatores, é a inflação que já acumula 10,54% nos últimos 12 meses.
Em ano de eleição, o preço da gasolina certamente será explorado pelos candidatos, seja para atacar adversários, seja para prometer soluções milagrosas. O fato é que ele é resultado de uma soma de fatores, e a conta para solucionar o problema não é simples.
Paulo Vitor Bruno Onezorge é diretor executivo da Faculdade UCL.
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