Banco Central no dilema: juros baixos e metas de inflação
Coluna foi publicada nesta quinta-feira (11)
Leitores do Jornal A Tribuna
No Brasil, o Banco Central (BC) é responsável por normatizar, fiscalizar, regular e intervir nas instituições financeiras; administrar as reservas internacionais; controlar os influxos de capitais estrangeiros e conduzir a política monetária. Uma de suas principais incumbências, todavia, é determinar a quantidade de dinheiro em circulação na economia.
A esse respeito, denomina-se papel-moeda em poder do público o dinheiro que não se encontra em poder dos bancos ou em poder do Banco Central; o caixa dos bancos comerciais, por sua vez, encerra o dinheiro que se encontra nos cofres e nos guichês das agências bancárias; e o meio circulante é, portanto, a soma do papel-moeda em poder do público mais os depósitos à vista dos bancos comerciais.
Na economia, há, pois, basicamente, dois agentes capazes de criar moeda: o Banco Central, que cria a moeda fiduciária, e os bancos comerciais, que criam a moeda escritural, também chamada de moeda bancária ou contábil, pois resulta dos empréstimos realizados pelos bancos com depósitos à vista de seus clientes.
A título apenas ilustrativo, imagine que João depositou R$ 10 mil em um banco comercial. Este banco é obrigado a depositar 10%, ou seja, R$ 1.000,00, no Banco Central, ficando com R$ 9 mil. Para rentabilizá-lo, empresta os R$ 9 mil a Maria, que usa esta quantia para pagar a Marcos. Este vai ao banco e os deposita. O banco, após remeter ao BC os 10% relativos ao depósito compulsório, fica com R$ 8.100,00, e os empresta para Jonas. Este pagou com o dinheiro uma dívida à Juliana, que o depositou em seguida. Novamente, o banco transferiu, 10% (R$ 810) ao BC, e emprestou 7.290,00. Ou seja, no caso hipotético em questão, de somente uma quantia de R$ 10 mil, o banco pôde multiplicar, sobremodo, a quantidade de meio circulante.
É justamente por causa disso que se dota o Banco Central de prerrogativas para controlar a taxa de juros. Decerto, baixas taxas de juros incrementam os empréstimos bancários, o que pode favorecer investimentos produtivos. Por outro lado, aos olhos dos produtores, o aumento da oferta monetária sinaliza que os consumidores podem estar dispostos a pagar um pouco mais pelos mesmos bens e serviços.
De fato, uma das consequências mais significativas da inflação, no curto e médio prazo, é seu potencial de reduzir o poder de compra dos indivíduos, pois se os preços aumentam regularmente, os consumidores não conseguem mais comprar a mesma quantidade que outrora, gerando efeitos adversos sobre a taxa de crescimento da economia.
Ademais, com a inflação aumentam-se as incertezas e reduzem-se os investimentos, pois como os preços relativos dos bens e serviços mudam constantemente, fica mais difícil para as empresas estimarem seus custos e lucros, o que acaba por inibir a própria criação de emprego.
Por isso, é importante não se perder de vista que a economia é um sistema, não se podendo alterar arbitrariamente uma de suas variáveis sem provocar externalidades sobre outras.
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