Atenção especial às pessoas com deficiência durante a pandemia
Leitores do Jornal A Tribuna
Neste momento de crise global da saúde pública com a pandemia da Covid-19, é fundamental compreender que há grupos de risco que merecem a mesma atenção que os idosos, as gestantes e os profissionais de Saúde. Refiro-me às pessoas com deficiência (PCDs), que cotidianamente vivem em condições de vulnerabilidade.
A Organização das Nações Unidas (ONU) publicou um alerta mundial sobre o abandono e os riscos de contaminação desse grupo. Por causa da pandemia, muitos não têm cuidadores e têm dificuldades para se deslocar e realizar atividades simples como se alimentar e se vestir.
A relatora da ONU para os Direitos das Pessoas com Deficiência, Catalina Devandas, alertou que pouco está sendo feito para proteger esse grupo. Segundo ela, as pessoas com deficiência sentem que foram deixadas para trás, pois as medidas de contenção como o distanciamento social e o isolamento podem ser inacessíveis para quem precisa de apoio para comer, se vestir ou tomar banho.
Se olharmos apenas clinicamente, possuir alguma deficiência não significa necessariamente maior vulnerabilidade à Covid-19.
É preciso ampliar o espectro de avaliação ao discutir o lugar biopsicossocial das pessoas com deficiência, inserindo-as entre os de risco. É fundamental, também, que os governos garantam o pagamento de um valor emergencial às famílias de baixa renda que tenham como membro uma pessoa com deficiência, considerando as dificuldades de inserção no mercado de trabalho.
É igualmente importante que as empresas permitam que as PCDs trabalhem, sempre que possível, em home office, com isenção de impostos, já que os custos para sobrevivência aumentam.
Campanhas, entrevistas e pronunciamentos com orientações governamentais à população devem estar acessíveis com intérpretes de Libras, descrição de imagens e ampliação e contraste na produção de folheteria.
É fundamental considerar questões como o fato de que os deficientes físicos devem limpar com frequência o aro de impulsão das cadeiras de rodas, o joystick, as órteses e próteses e as bengalas, muletas e os andadores. Os deficientes visuais devem lavar as mãos ao tocar em mapas táteis, corrimãos, maçanetas e na bengala longa, e, quando ajudadas, devem tocar o ombro do ajudante, não o cotovelo.
As pessoas com deficiência intelectual devem receber ajuda para compreender as recomendações sobre atividades de higiene pessoal. A situação exige solidariedade, e as pessoas com deficiência não podem continuar esquecidas e invisíveis. É possível, por exemplo, criar grupos de ajuda para fazer compras, para auxiliar no deslocamento às terapias e nos cuidados de higiene.
Podem ser criados nas redes sociais canais que tornem mais humanizado o isolamento social dessas pessoas, por meio de grupos que as incentivem a falar sobre o que estão sentindo. Estamos falando de respeito, não de “jeitinho”, de ações paliativas ou mero assistencialismo. Estamos falando de direitos iguais para todos.
Douglas Ferrari é professor da Ufes e coordenador do Núcleo de Acessibilidade da universidade.
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