Acolher faz toda a diferença
Crianças com câncer enfrentam longas jornadas de tratamento; apoio e acolhimento às famílias são essenciais para garantir cuidado e esperança
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que, entre 2023 e 2025, o Brasil registre cerca de 7.930 novos casos de câncer por ano em crianças e adolescentes de 0 a 19 anos. Esse número representa um risco estimado de 134,8 casos a cada milhão de jovens nessa faixa etária. No Espírito Santo, a taxa de incidência prevista é de 130,6 casos por milhão de crianças.
Por trás dessas estatísticas, existem milhares de famílias que têm a rotina transformada. Os dias passam a girar em torno de consultas, exames e internações. Toda a estrutura familiar precisa ser reorganizada para enfrentar os desafios do tratamento.
Uma realidade dura – e muitas vezes invisível para a sociedade – é que, além da luta contra a doença, essas famílias precisam lidar com o afastamento de casa e a busca por hospitais especializados, muitas vezes localizados em outros municípios ou estados. O tratamento oncológico pode se estender por meses ou até anos, tornando a jornada ainda mais exaustiva.
No Brasil, aproximadamente 5,5% das crianças que chegam aos hospitais não iniciam o tratamento, segundo o Panorama da Oncologia Pediátrica, do Instituto Desiderata. Dentre essas, 11,3% não iniciam por precisarem se deslocar para outro local.
No Espírito Santo, o índice de abandono do tratamento é de 5,8%. Essa interrupção impacta diretamente as chances de cura: a taxa de mortalidade no Estado é de 46,9 óbitos por milhão de crianças e adolescentes, enquanto a média nacional é de 42,6.
Por isso, além do atendimento médico, as famílias precisam de suporte e acolhimento. E acolher vai além de oferecer uma cama ou uma refeição: significa criar um ambiente seguro, onde elas encontrem conforto, escuta e amparo. Na Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil (Acacci), além da hospedagem e alimentação, é desenvolvido um programa de assistência integral com atividades recreativas, artísticas e pedagógicas, para aliviar os impactos da doença. Em 2024, foram atendidas 392 pessoas, com 1.190 hospedagens e 22.080 refeições servidas.
Não se preocupar com a hospedagem possibilita que os familiares lidem melhor com o tratamento, enfrentando com mais tranquilidade as fases complexas do processo oncológico e ficando mais fortalecidos para tomar decisões e apoiar os filhos quando sabem que não estão sozinhos.
Para as crianças, isso se reflete em laços afetivos preservados, momentos de brincar e um cuidado mais humanizado, que favorece o bem-estar. Mesmo sem entender tudo o que acontece, elas percebem quando estão em um ambiente seguro e cercadas de carinho. E isso faz toda a diferença.
Por isso, é sempre importante lembrar: precisamos, por meio de uma rede de apoio firme e sensível, transformar a realidade de quem enfrenta o câncer infantil. Porque, no fim das contas, acolher é cuidar. E cuidar, nesse contexto, é um gesto de amor que salva vidas.
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