A vida é a melhor escolha
Confira a coluna Tribuna Livre desta quarta-feira (14)
Leitores do Jornal A Tribuna
Dez de setembro marcou o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio. Durante todo o mês são feitas ações de conscientização sobre a importância das medidas de prevenção, que devem ser contínuas. Os dados são alarmantes: de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mortes por suicídio ultrapassaram o número de mortes por HIV/AIDS, malária, câncer de mama, guerras e homicídios em 2021.
Aqui no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, 112.230 pessoas tiraram a própria vida entre 2010 e 2019. O ato está ligado ao intenso sofrimento emocional, em que a pessoa não vê saídas para sua dor psíquica, fazendo parte de um ciclo que começa com pensamentos suicidas, seguidos por planejamento, até à execução. Não poupa ricos, pobres, adolescentes, adultos jovens, pessoas de meia idade, sendo frequente em idosos, podendo ocorrer, infelizmente, até com crianças. Acontece com pessoas de todas as classes sociais, religiões e países.
Nos idosos, especificamente, o suicídio pode estar relacionado a perdas de familiares, solidão intensa, dores fortes e incapacidade funcional que impedem ou atrapalham muito os atos comuns da vida diária. A mortalidade por suicídio entre idosos tende a aumentar no Brasil. Pesquisas acadêmicas apontam que foi detectado aumento no Espírito Santo, no período de 2006 a 2019. Os fatos são preocupantes em função do envelhecimento da população mundial e brasileira.
Na maioria das vezes, o suicídio está relacionado a doenças mentais como quadros depressivos significativos e transtorno bipolar, esquizofrenia, transtornos ligados ao uso de álcool e outras drogas. Cada vida perdida é uma tragédia para familiares, amigos, sendo imperativo o envolvimento dos diversos segmentos da sociedade em sua prevenção. No País, o comportamento suicida é de notificação obrigatória e infelizmente as subnotificações prejudicam as ações do poder público.
Tem sido observado, em todo o mundo, que idosos procuram os serviços de atenção primária à saúde, ou unidades de saúde, no ano e nos meses que antecederam o atentado contra a própria vida, com queixas variadas, uma vez que se sentem pouco à vontade para falar sobre sintomas depressivos. Dessa forma, os trabalhadores dos serviços de atenção básica à saúde precisam ser capacitados para detectar pensamentos e intenções suicidas, não somente em idosos, mas em todas as idades.
E as capacitações precisam ser feitas além dos serviços de saúde: devem ser estendidas aos professores, assistentes sociais, religiosos, RH de empresas, a fim de promover uma detecção precoce do comportamento suicida e cooferta de tratamento adequado.
O mês de setembro marca o Setembro Amarelo, que neste ano de 2022 tem como tema “A vida é a melhor escolha”. É nosso dever atuar para a conscientização da importância da vida, e acabar de uma vez por todas com o tabu. Quanto mais se fala sobre o assunto, mais pessoas são alcançadas, se sentem acolhidas e entendem que não estão sozinhas.
MARIA BENEDITA REIS é médica psiquiatra e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria.
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