A luta quase invisível da mulher com endometriose
Coluna foi publicada nesta terça-feira (27)
Leitores do Jornal A Tribuna
Passar anos convivendo com dores incapacitantes, entrando e saindo de consultas com diversos médicos em busca de um alívio para um sofrimento que se intensifica com o tempo, a cada mês e a cada ciclo menstrual. Assim podemos descrever um pouco da vida de uma mulher com endometriose, doença crônica inflamatória que afeta cerca de 10% da população feminina em idade reprodutiva.
A patologia causa cólicas menstruais intensas e a maioria dos casos já começa a partir da primeira menstruação, e se estende para a vida adulta com uma sobrecarga de prejuízos à saúde física, mental e também reprodutiva, uma vez que a endometriose é uma das causas da infertilidade. Se não for tratada corretamente, pode dificultar e impedir a paciente de ser mãe.
Mesmo com tantos desdobramentos, a endometriose esconde uma luta invisível que ainda submete muitas mulheres a sofrimentos que passam despercebidos ao longo dos anos. As dores que se intensificam no período menstrual, não raramente, são consideradas “coisa de mulher”. A incapacidade de realizar tarefas do dia a dia, muitas vezes, é interpretada como drama ou preguiça. Afinal, é só uma dorzinha de mulher que está “naqueles dias”, não é mesmo?
E por anos a paciente segue nessa batalha que esconde tormentos físicos e emocionais, sufocada pela incompreensão, por julgamentos equivocados e olhares distorcidos. E tudo que desconsidera a existência da doença corrobora para um o diagnóstico tardio, um dos grandes complicadores da endometriose.
Por considerarem que se trata de algo normal, muitas mulheres convivem com a condição por anos. Outras descobrem quando se deparam com a dificuldade de engravidar e decidem investigar as causas da infertilidade, e aí ficam sabendo que são portadoras da doença.
A desinformação não afeta apenas as pacientes, e passa muitas vezes pela família que ignora os sintomas dessa paciente desde as primeiras queixas, na adolescência marcada pelas cólicas dolorosas.
Durante muito tempo, nem mesmo a medicina foi uma boa aliada. Queixas ignoradas e escassez de profissionais especializados contribuíram para que vários casos da doença não fossem descobertos precocemente, trazendo uma série de consequências negativas à saúde de tantas mulheres.
Felizmente, o tempo também age como bom aliado. Graças aos avanços da medicina dos últimos anos, hoje quem tem endometriose pode trilhar um novo caminho, com mais esperança e respeito às suas dores. O problema ainda não tem cura, mas os recursos inovadores da atualidade permitem diagnóstico precoce e tratamento assertivo que trazem mais qualidade de vida às pacientes, que podem viver com menos dores e muitas delas ainda têm a chance de tratar a infertilidade e realizar o sonho da maternidade.
É importante nunca se calar diante de uma dor, seja ela qual for. E buscar ajuda profissional que seja sensível a não ignorar nenhuma de suas queixas.
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Tribuna Livre,por Leitores do Jornal A Tribuna