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TRIBUNA LIVRE

A digitalização da vida e as razões do corpo e da alma

| 15/08/2020, 10:12 h | Atualizado em 15/08/2020, 10:14
Tribuna Livre

Leitores do Jornal A Tribuna


Em tempos modernos, nosso corpo virou peça de máquina. Carlitos bem mostrou o ajuste da carne às engrenagens da fábrica no clássico de Chaplin. Hoje, a ideia é reduzi-lo a aparições de multitela.
A saída emergencial para enfrentar a pandemia acelerou a digitalização. E agora nossa imagem nos aplicativos, predizem e ditam os oráculos das lives, será o maior sinal da nossa presença no mundo. Das soluções econômicas ao livramento dos temores do olho no olho, será que, enfim, teremos a alforria do corpo? Doce ilusão monetizada, com novas angústias contratadas!
Como afirmavam os gregos, viver é exercitar os sentidos – ver, cheirar, saborear, ouvir, tocar, nas mais infindas variações dessas possibilidades vitais de sensação. Ah, mas se pode argumentar que só o paladar e o olfato não cabem nas telas. Como ensina Muniz Sodré, no “continente de bytes” se pode enxergar um modo peculiar de existência, mas se trata de uma vivência precária, deficitária.

Urge, pois, como alerta Agamben, “ver trevas, perceber o escuro” nas luzes do tempo. E enxergar além da ribalta da digitalidade é, fundamentalmente, entender que a tecnologia não é uma redentora suprema de nossas vicissitudes subjetivas e intersubjetivas.

Na virada do milênio, predominava o discurso de que as redes propiciariam uma “inteligência coletiva”. Duas décadas depois, o que atingimos é o exato oposto. Chegamos à coletivização do atraso. Voltamos a sentir ou tivemos incrementado o bafo forte de ideias fascistas, nazistas, populistas, ditatoriais, xenófobas e preconceituosas as mais diversas.

Achar que a técnica por si só é boa ou traz melhorias automaticamente é ingenuidade ou devoção tácita ao status quo. E o que temos de menos defensável hoje é exatamente o status quo que nos trouxe a este tempo sombrio e mortífero. A migração digital exige imensa prudência humanística.

Se mergulharmos impensadamente na tele-existência, modificando perversa e radicalmente o design dos nossos múltiplos encontros, talvez o que estejamos fazendo seja mesmo retomar com ainda mais força o caminho que nos levou ao velho normal, incrementando seus ditames de individualismo, instantaneísmo, obsolescência vertiginosa, consumismo, coisificação do próximo, entre outros fatores de desvalorização do humano que reside e resiste em nós.

Theodore Zeldin escreveu: “Vejo o encontro de pessoas, corpos, pensamentos, emoções ou ações como o princípio de mudanças maiores”. Mas para tal, é preciso saber que “os humanos sempre necessitaram não apenas de comida e abrigo, saúde e educação, mas também do trabalho que não destrói a alma e de relacionamentos que fazem mais que expulsar a solidão; os seres humanos precisam ser reconhecidos como pessoas”.

Na digitalidade, esse desafio civilizatório alcança um ponto ímpar na nossa trajetória sob o Sol. Os plenos encontros entre pessoas de carne e osso e alma são fonte de muita ansiedade, considera Zeldin, mas também são a origem da “esperança, e a esperança é a origem da humanidade”.

José Antônio Martinuzzo é pós-doutor em Mídia e Cotidiano, professor na Ufes, membro da Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória.

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