Uma vergonha!
Coluna publicada na edição de domingo (30), do jornal A Tribuna
Dia desses meditava sobre a fala do primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, acerca do sexo feminino: “Você não pode colocar homens e mulheres em pé de igualdade. É contra a natureza. São constituídos de forma diferente”. Naquele mesmo país, o Ministro da Saúde Mehmet Müezzinoglu, durante discurso proferido em um casamento, houve por bem dizer que “a maternidade deveria ser a principal carreira das mulheres”.
Na Arábia Saudita um historiador – alguém culto, pois – declarou, ao ser entrevistado, ser correta a proibição de mulheres dirigirem veículos naquele país. E completou: “No Ocidente elas dirigem porque não se importam de serem estupradas no acostamento na eventualidade de o carro quebrar”.
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Para espanto da jornalista que o entrevistava sugeriu em seguida que as viúvas sauditas deveriam ser transportadas por mulheres ocidentais trazidas especialmente para este fim.
Enquanto isso o primeiro-ministro indiano Narendra Modi provocou grande indignação nas redes sociais depois de elogiar sua colega de Bangladesh, Sheikh Hasina, por sua coragem na luta contra o terrorismo “apesar de ser mulher”.
No Irã, abordando a composição do parlamento nacional, assim opinou o deputado Nader Qazipour: “O Parlamento não é lugar para bebês e burros. O parlamento não é lugar para mulheres. O Parlamento é para homens”.
Dos Estados Unidos vem a “pérola” seguinte. Abordando o problema do alto índice de estupros, o chefe de polícia Bryan Golden afirmou que “a maior parte deles é de mulheres que acordaram no dia seguinte com complexo de culpa”.
Ainda naquele país há o caso da amamentação em local público. Opondo-se a uma proposta de legislação que a criminalizaria por ofensa aos “bons costumes” a parlamentar Amanda Bouldin ouviu o seguinte de seu colega Josh Moore: “Se há uma tendência natural das mulheres em expor seus seios em público, e se você dá apoio a isso, então não deveria haver problema com a igualmente natural tendência dos homens em agarrá-los”.
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No Paquistão, ao ser abordado sobre uma “epidemia” de estupros que assolava o país, o primeiro-ministro Imran Khan declarou que “se uma mulher veste poucas roupas isso terá um impacto no homem a menos que sejam robôs. É bom senso”. No Japão, o ministro da Saúde Hakuo Yanagisawa referiu-se às mulheres como “máquinas de procriar”.
Encerro esta relação com uma fala do polonês Korwin-Mikke, membro do Parlamento Europeu: “Sabem que posição as mulheres ocupavam nas Olimpíadas gregas? A primeira mulher, digo-vos eu, ocupou a posição 800. Sabem quantas mulheres há entre os primeiros 100 jogadores de xadrez? Eu digo: nenhuma. Então claro que as mulheres devem ganhar menos do que os homens porque são mais fracas e menos inteligentes”.
Diante destes exemplos, todos protagonizados por pessoas preparadas e que exercem papel de liderança perante a Humanidade, fico a pensar no eterno passar dos séculos – quantos deles serão necessários para que as mulheres sejam, apenas e simplesmente, respeitadas?
Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo
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