Uma indústria
Confira a coluna deste domingo (19)
Dia desses li uma interessante frase, cunhada em Minas Gerais: “Há três forças contra as quais ninguém pode – fogo de morro acima, água de morro abaixo e o governo”. Fiquei a pensar na chamada “indústria das multas”. Em Brighton, no Reino Unido, um cidadão deixou “estacionado”, na rua, um ônibus de brinquedo, medindo, no máximo, uns 60 centímetros. Mas, apesar disso, lá veio a multa: 40 libras.
O pavor de ser multado já começa a tomar ares de pânico. Na China, um motorista de ônibus foi parado pela polícia após avançar um sinal vermelho, na cidade de Zhongshan. Desesperado, se enfiou debaixo do veículo, recusando-se a sair para não receber a multa. Os policiais começaram a empurrar o ônibus, para ver se ele ficava exposto. Mas, não deu certo: o motorista se agarrou à lataria e acabava sendo arrastado com ela. A solução foi trazer ganchos de aço para puxá-lo à força - e, assim, multá-lo!
Na Sicília (Itália), uma senhora foi multada por ter estacionado seu veículo em local proibido por mais de dois mil anos.
É isso mesmo: ela viu-se instada a pagar nada menos que US$ 20 mil por ter deixado seu carro estacionado, irregularmente, desde o ano 208 antes de Cristo. Ao receber a multa, teve um colapso e foi hospitalizada.
Realmente, ninguém pode com o governo. No Reino Unido, um pacato cidadão andava pela calçada, em paz, quando foi atropelado por uma viatura da polícia.
Repito: a viatura atropelou-o na calçada. Com o choque, o carro ficou levemente amassado e o pedestre teve o pé quebrado.
O resultado disso foi uma multa de 50 libras – para o pedestre, por ter amassado uma viatura policial!
Não menos tocante é o caso de Harriette Kelton, uma professora aposentada do estado do Texas (EUA). Aos 97 anos de idade, foi algemada e presa por ter deixado de pagar uma multa relativa a estacionamento ilegal. Acentuo: a cena de uma senhora idosa, de 97 anos, algemada e carregada para uma cela, não aconteceu em nenhum país atrasado do 3º Mundo, mas nos EUA…
Por falar em deixar de pagar multas, a fiscalização de trânsito de Londres multou um veículo dela própria, estacionado em local proibido. Quando chegou a hora do pagamento, eles acharam errado pagar algo a si próprios. E assim recorreram ao conselho recursal, formado por eles, no qual eles mesmos decidiram que não deveriam pagar a si próprios o custo da multa aplicada por eles contra eles mesmos. Entenderam?
O fato é que as multas de trânsito já começam até a fazer parte da economia de alguns países. Na Costa Rica, por exemplo, a arrecadação delas representa nada menos que 14% do plano fiscal do governo. É diante desse quadro que fico a pensar o quão bom seria levarmos esta “indústria” até as repartições públicas e aos seus ocupantes.
Imaginem multar os responsáveis pelas crateras que tantos prejuízos trazem para o trânsito! E que tal punir os administradores que não conseguem regularizar serviços públicos, os mais básicos, prejudicando todo o povo?
Afinal, como dizia Juanes, “o poder é limpo quando se traduz em serviço”.