Sebastião Salgado: uma luz no fim do túnel
Confira a coluna de sábado (18)
Privilégio foi ter encerrado o ano de 2024, no Teatro Sesc/Glória, em Vitória, participando de um bate-papo com o fotógrafo Sebastião Salgado, numa promoção da Mosaico Fotografia. A palestra foi seguida da apresentação de mais de 250 fotos, resultado dos 40 anos que ele fotografa a floresta e os povos originários que habitam e preservam o Bioma Amazônico.
Além de suas fotos antológicas, largamente vistas mundo afora, impactante foi ter sido mostrado, no mapa do Brasil, que o desmatamento mais voraz não acontece no Bioma Amazônico, como se costuma imaginar, mas, sim, nos biomas Caatinga, Mata Atlântica, Pampas e parte do Cerrado.
Com seu profundo conhecimento daquele bioma e ferrenho defensor da Amazônia, Sebastião Salgado assegurou que essa área representa 49,9% de todo o território nacional, como também sublinhou a importância da proteção na Constituição Federal das áreas indígenas (25,2%) e das áreas dos parques nacionais, (24,9%) que somam mais da metade da área total do Brasil, atribuindo esse mérito de preservação a atual proteção consignada na Constituição Federal de 1988.
Ao ressaltar a eficácia da atual legislação na proteção ambiental do bioma amazônico, bem como enaltecer a importância da missão da Funai, ele fez duras críticas às constantes tentativas de afrouxamento dessa legislação protetiva, pelo Congresso Nacional, relembrando a célebre frase do ministro da Meio Ambiente do governo passado de “aproveitar o momento para facilitar a passagem da boiada”.
Ao final, concluiu fazendo uma defesa veemente da imperativa necessidade de imprimir maior rigor na fiscalização; aprimorar e não afrouxar a atual legislação ambiental e, sobretudo, plantar árvores e mais árvores, como única forma de produzir água, por meio da recuperação das nascentes. Para tanto, fechou sua apresentação com “chave de ouro”, com algumas fotos emblemáticas sobre a real possibilidade de recuperação de áreas totalmente degradadas, como no caso da área do Instituto Terra, transformando-a numa viçosa floresta tropical, no curto período de 20 anos (2001/2021).
Esse exemplo constitui-se, hoje, na maior vitrine no Brasil, para demonstrar a real possibilidade de recuperação de solos degradados, em alta escala, contrariando os mais pessimistas, com a sinalização de que nem tudo está perdido - dependendo também de nós, ainda existe “uma luz no fim do túnel “, como ocorreu no Instituto Terra, do Sebastião Salgado, que é, realmente, uma figura admirável, daquelas que leva à indagação: “Como pode ter alguém assim?
Admirável, tanto pelo seu conteúdo e pela sabedoria, não só pelas fotos maravilhosas, mas, pela sua eloquência, firmeza no timbre de voz, transmissão de energia e um entusiasmo juvenil, em especial quando proclama seu imenso amor pelo Estado do Espírito Santo, pela sua capital, Vitória, e, sobretudo, pela sua esposa arquiteta Lélia Wanick, sua parceira em tudo, há mais de seis décadas, a quem ele atribui a essência de sua obra e seu legado.