O perfil dos lares mudou, e o que isso impacta na economia?
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Os dados do Censo 2022, que foram divulgados no fim de outubro, apresentaram mudanças significativas na estrutura dos lares brasileiros, principalmente se comparados ao último Censo realizado em 2010.
Uma das principais mudanças foi que, pela primeira vez, o número de mulheres que são responsáveis pelas residências superou a quantidade de mulheres declaradas como cônjuge, filha ou outro papel. Vale ressaltar que o recenseador pergunta quem é a pessoa de referência ou quem é o responsável pelo lar. Em 2022, 49,1% dos respondentes declararam que uma mulher ocupava esse papel, contra 38,7% em 2010.
Os números refletem expressiva alteração na configuração dos lares e, sobretudo, uma mudança cultural da sociedade brasileira. Alguns fatores contribuem para isso, dentre os quais, o aumento do ingresso das mulheres no mercado de trabalho e uma predominância no número pessoas do gênero feminino a partir dos 25 anos.
Nesse quesito, é importante pontuar que, apesar de nascerem mais homens do que mulheres no Brasil, a partir dos 25 anos as mulheres são a maioria da população em todos os estados do Brasil. Ou seja, os homens morrem mais cedo, e isso se deve a vários fatores, entre eles a violência.
Outros números que merecem destaque na divulgação do Censo: o número de moradores por residência reduziu (2,8 contra 3,3 em 2010); os lares compostos por casais do mesmo sexo passaram de cerca de 60 mil em 2010, para 391 mil em 2022; a quantidade de pessoas que moram sozinhas também aumentou (18,9% contra 12,2% em 2010); e, a idade média do brasileiro passou de 29 em 2010 para 35 anos em 2022.
Todos esses dados apontam, por um lado, para a necessidade da criação de políticas públicas para esse novo cenário: pessoas mais velhas, com predomínio feminino, morando sozinha e com menos filhos. Por outro lado, é preciso atenção para o fato de que as empresas também devem se adaptar a essa nova realidade.
Um impacto dessa mudança de configuração da população já é percebida no mercado de trabalho. Atualmente, o País enfrenta uma crise de mão de obra. Aqui no Estado, as taxas de desocupação estão abaixo da média nacional. Assim sendo, encarar a pauta de diversidade com mais assertividade pode contribuir para que as empresas atraiam e engajem uma parcela da população com mais idade, com maior número de mulheres e de outras minorias.
Para atender a esse objetivo, porém, há que se investir na redução da desigualdade da remuneração entre homens e mulheres que ocupam a mesma função. Dados de outras pesquisas apontam que mulheres ganham cerca de 20% menos do que os homens, e quando esse dado é quebrado por raça, o número é alarmante: as mulheres pretas ganham cerca de 40% da remuneração de um homem não preto, que ocupa a mesma função.
Diante desse cenário, governo e iniciativa privada precisam adequar-se a esse novo modelo de sociedade e ajustar suas políticas para que os impactos dessas modificações nas famílias sejam favoráveis do ponto de vista econômico.
FLÁVIA RAPOZO é líder do Comitê de Economia do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-ES)