Lugar de livro
Coluna foi publicada no sábado (28)
O Distrito Anhembi, em São Paulo, foi palco do maior movimento literário da América Latina. A 27ª edição da Bienal Internacional do Livro, realizada no período de 6 a 15 de setembro, superou todas as expectativas e, por isso, já é considerada a maior edição dos últimos 10 anos.
De acordo com os organizadores, cerca de 722 mil pessoas prestigiaram o evento durante os 9 dias de programação. As editoras comemoraram um aumento significativo nas vendas, atingindo 120% em relação ao ano de 2022.
Mesmo com uma estrutura física 15% maior que a edição anterior, foi possível constatar filas imensas, preços altos praticados na praça de alimentação e, de modo geral, ausência de acessibilidade.
Apesar dessas questões, que certamente demandarão avaliações e providências dos produtores e realizadores da 28ª edição, uma confirmação se sustenta: eventos literários também têm público.
No caso da 27ª Bienal, de maneira particular, a presença protagônica do público jovem chamou a atenção. Talvez, esse comportamento esteja associado à internet, às séries, likes entre outras coisas.
Paradoxalmente, no cotidiano capixaba, é comum ouvir de professoras e professores, a partir de suas vivências nas escolas, que estudantes, especialmente adolescentes e jovens, não leem!
Quanto a isso, é importante uma volta reflexiva e instigadora. O início da formação da pessoa leitora precede a escola. Em alguns casos, é sabido, ela é o primeiro lugar de encontro da pessoa com o livro. Noutros, a biblioteca cumpre esse papel.
Em época de campanhas eleitorais, para o legislativo e executivo municipal, por exemplo, quantas vezes se ouviu, das candidatas e candidatos, em entrevistas ou debates, a palavra “livro” ou propostas que promovam a formação de pessoas leitoras, na escola e fora dela?
Na Roma Antiga, há dois mil anos, havia quase 30 bibliotecas públicas. No Estado do Espírito Santo, composto de 78 cidades, qual é o número de bibliotecas públicas municipais? Quais as condições desses espaços? Quantas cidades realizam feiras e/ou festas que tenham o livro como atração? Quais políticas públicas estão voltadas ao propósito da constituição de uma cidade leitora?
O Espírito Santo, de gigantes da Literatura como Carmélia Maria de Souza, a cronista do povo; de Rubem Braga, o maior cronista brasileiro; de outras e outros capixabas, realizou a última Bienal Capixaba do Livro, sua 7ª edição, em 2015. A Feira Literária Capixaba (Flic-ES), 6ª edição, em 2019.
Urge que, tempos depois, viremos essa página e retomemos a escrita dessa história. Isso implica o compromisso ético-político e o exercício estético-poético no reconhecimento do lugar do livro na formação humana. Tarefa que requer iniciativas da sociedade civil, sim, mas, sobretudo do poder público. Que cada pessoa seja um lugar de livro. Que as cidades sejam leitoras.