Lixo eletrônico: o desperdício silencioso
Coluna foi publicada na segunda-feira (21)
Presentes na maioria dos lares e empresas, os equipamentos eletroeletrônicos incluem desde utensílios básicos de cozinha até dispositivos de tecnologias de informação e comunicação, tais como telefones celulares e laptops. Cada produto tem um perfil de vida útil específico, o que significa que possuem diferentes quantidades de resíduos, valores econômicos e potenciais impactos na saúde e no meio ambiente, se reciclados de maneira inadequada.
Quando o tempo de vida desse produto termina, ele se torna um resíduo eletroeletrônico (REEE). Desde 2010 os REEEs aumentaram significativamente: isso se deve ao fato de que mais pessoas estão tendo acesso a celulares e internet. O mundo conta com mais de 7,7 bilhões de assinaturas de telefone celular e, no Brasil, 83% dos indivíduos com mais de 10 anos possui celular. Cada um teve em média 3 celulares nos últimos 10 anos, o que equivale a vida útil de mais ou menos 3 anos por aparelho.
A rápida obsolescência de dispositivos somado à constante evolução da tecnologia tem dado mais espaço para o descarte inadequado, com uma ameaça significativa ao meio ambiente e à saúde humana. Os dispositivos contêm uma variedade de materiais tóxicos, como mercúrio, chumbo, cádmio e substâncias químicas perigosas. Quando esses produtos químicos entram em contato com o solo e a água, podem poluir o ambiente e prejudicar a fauna e flora local.
O que acontece é que muitos países desenvolvidos enviam seu lixo eletrônico para nações em desenvolvimento, onde é frequentemente processado e manuseado de maneira inadequada, causando danos ambientais e à saúde das pessoas envolvidas nesse processo. Além disso, os dispositivos eletrônicos contêm recursos preciosos, como ouro, prata e cobre, e quando esses aparelhos são descartados em aterros sanitários, esses recursos valiosos são perdidos.
Segundo a União Internacional de Telecomunicações, 97% dos REEE da América Latina não são descartados de forma sustentável, com um valor perdido de US$ 1,7 bilhão por ano. Segundo relatório sobre eletrônicos circulares apresentado no Fórum Econômico Mundial de Davos, de 2019, o lixo eletrônico a nível global tem valor de US$ 62,5 bilhões, o que corresponde ao PIB anual do Quênia.
Há soluções sustentáveis. A reciclagem adequada, a reutilização de componentes e a doação de dispositivos ainda funcionais para organizações que podem fornecê-los a comunidades carentes.
Com a reciclagem correta é possível recuperar cerca de 60% de metais preciosos (ouro, prata, cobre); 15% de plásticos (que tem uma taxa de reciclagem bem abaixo da de metais devido a complexidade das misturas dos materiais); e 50% de vidro. É possível gerar valor a partir de algo que muitos veem apenas como lixo e ainda criar empregos formalizados e com condições justas de trabalhos, e prevenir a exposição humana a toxicidade de materiais presentes nos dispositivos eletrônicos.