Lipedema e o longo caminho até o diagnóstico correto
Coluna foi publicada nesta quarta-feira (27)
O tratamento mais assertivo para qualquer problema de saúde depende, essencialmente, de um diagnóstico preciso e precoce. Por outro lado, quando as complexidades da doença dificultam a sua detecção correta, um longo caminho de dúvidas e sofrimentos se abre diante das incertezas.
E assim ocorre com algumas enfermidades específicas, especialmente as que estão ganhando espaço de discussão recentemente. Um exemplo é o lipedema, doença inflamatória crônica e progressiva caracterizada pela deposição anormal de gordura doente em membros inferiores e, às vezes, superiores. Apesar de a doença ter sido descrita na década de 1940, apenas agora fala-se mais sobre ela.
A condição se manifesta pelo acúmulo desproporcional de gordura nos membros afetados, como quadris, tornozelos e, principalmente, as pernas. Por se tratar de uma disfunção hormonal, atinge principalmente as mulheres.
A busca por um diagnóstico correto e por especialistas que detectam e tratam o lipedema, na maior parte das vezes, é uma odisseia repleta de angústias e informações equivocadas.
Geralmente, as mulheres percorrem diversos consultórios e acabam sendo apenas aconselhadas a perderem peso, comer menos e se exercitarem. Diante da imprecisão e de resultados, acabam acreditando que estão sozinhas em meio a um deserto impossível de atravessar.
No caso do lipedema, mesmo comendo bem e praticando atividade física, a gordura acumulada nos membros afetados não diminui, e a mulher se vê dentro de “dois corpos”, ou seja, fina da cintura para cima e com quadris e pernas pesados e grandes na parte de baixo, totalmente desproporcional.
E como se não bastasse o desgaste na autoimagem (e na autoestima), os sintomas dolorosos devastam ainda mais a qualidade de vida da paciente. Dores, hematomas, fadiga e cansaço fazem parte da vida dessas mulheres.
Não existe uma cura definitiva para o lipedema, mas uma combinação de tratamentos é bastante eficaz para o controle da doença, a diminuição dos sintomas e a melhora do aspecto físico da paciente. Esse tratamento multidisciplinar conta com a atuação de diversas especialidades, como endocrinologia, angiologia, cirurgia vascular, nutrição, fisioterapia e cirurgia plástica.
Por se tratar de uma doença progressiva, que pode evoluir para quatro estágios, o diagnóstico precoce é um aliado fundamental. Primeiro, para dar fim à busca por respostas que até então pareciam nem existir. Segundo, para mostrar que o lipedema não é resultado de quem é descuidada com o corpo, seja porque come demais ou se exercita de menos. E por último, porque há, sim, a possibilidade real de obter resultados satisfatórios a partir de um conjunto de terapias eficazes e direcionadas especialmente para quem tem lipedema.
É fundamental que esse longo caminho até o diagnóstico precoce seja encurtado pela informação, pela orientação e pelo acolhimento, para que o problema seja reconhecido a tempo de resgatar a qualidade de vida, a dignidade e a autoestima perdida de tantas mulheres. Informação é poder!