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Tribuna Livre

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Colunista

Leitores do Jornal A Tribuna

Lição de coragem nas Olimpíadas

Coluna foi publicada nesta sexta-feira (09)

Gab Saab | 09/08/2024, 11:40 h | Atualizado em 09/08/2024, 11:40

Imagem ilustrativa da imagem Lição de coragem nas Olimpíadas
Olimpíadas: história da atleta Flávia Maria de Lima gerou debate nas redes sociais e emocionou o Brasil |  Foto: Loic Venance/Pool/Associated Press/Estadão Conteúdo

Não é de hoje que mulheres sofrem abusos silenciosos em seus próprios lares, que minam sua autoestima e refletem na carreira profissional. A atleta Flávia Maria de Lima compartilhou sua história de superação durante os Jogos Olímpicos de Paris e o caso gerou debate nas redes sociais. Para defender nosso País, ela sofreu calada.

De acordo com Flávia, defender-se das constantes acusações do ex-companheiro em processos judiciais é, hoje, seu maior desafio. Ele a acusa de abandonar a filha para competir pelo País e, com isso, a atleta corre o risco de perder a guarda da criança.

Os abusos psicológicos e patrimoniais faziam parte da rotina diária de Flávia Maria. Ela vivia uma verdadeira maratona para dar conta dos afazeres domésticos, família e treinos. Flávia Maria chegou a ter lesões musculares por carregar a filha no colo, enquanto subia e descia morros por quilômetros, trajeto que percorria diariamente para trabalhar.

É comum mulheres como Flávia Maria vivenciarem a rotina de exaustão enquanto são cobradas, controladas e desprezadas dentro de casa.

Em um claro exemplo de violência patrimonial, o companheiro detinha o poder sobre o dinheiro da atleta. O controle financeiro e as constantes tentativas de diminuir a autoestima são as principais armas do relacionamento abusivo.

Com a rotina de abusos, as vítimas podem desenvolver diversas doenças psicossomáticas, como câncer, diabetes, doenças de pele, queda capilar e, ainda, a depressão, resultado da tensão psicológica vivida.

Quando acredita que romper o ciclo de abusos com a separação irá cessá-los, a vítima se depara com um obstáculo ainda maior: a violência processual proveniente da litigância abusiva.

Comumente, por não aceitarem o término da relação, companheiros tóxicos usam o Judiciário para atacar suas vítimas e mantê-las presas à relação, ainda que a separação já tenha acontecido. É uma forma de perpetuar a prisão matrimonial, pois assim o relacionamento nunca termina. Ao compartilhar sua história, Flávia Maria alega enfrentar tentativas de silenciamento.

Esse é o padrão comportamental abusivo, em que a vítima busca se libertar do ciclo violento, mas se depara com a prorrogação do cativeiro através dos incansáveis processos judiciais, na chamada violência processual.

Quando expõe sua experiência, o abusador é beneficiado pelo sigilo processual imposto pelo Judiciário, forçando a vítima ficar calada. Podemos dizer que se ficar o bicho come, e se correr o bicho pega. Ou seja, nessa prova, a luta cotidiana da atleta é o obstáculo mais desafiador.

Além de atingir os índices olímpicos para ir à França competir, ela precisou vencer a violência doméstica. Nas Olimpíadas de Paris, Flávia Maria de Lima é ouro em superação de relacionamento abusivo! Maria fala por todas nós, e nós falamos por Maria! Somos todas Marias!

Imagem ilustrativa da imagem Lição de coragem nas Olimpíadas
Gab Saab é especialista em Psicologia Jurídica, graduanda em Direito, palestrante e escritora |  Foto: Divulgação

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