Legado dos povos ancestrais
Coluna foi publicada no sábado (17)
Escreveu em seu blog o amigo professor, escritor, sociólogo doutor João Gualberto de Vasconcelos, que muito justamente recebeu a Comenda Jerônimo Monteiro no grau Grã-cruz, a maior honraria do Espírito Santo, entregue pelo governador Renato Casagrande aos fundadores e membros do Conselho Deliberativo Espirito Santo em ação, como reconhecimento no processo de reconstrução ética e ao legado deixado no desenvolvimento do Estado nos últimos 20 anos.
Em seu excelente artigo, “Brasil é uma nova Roma”, doutor Gualberto nos lembra da afirmativa do grande mestre Darcy Ribeiro, brilhante antropólogo, foi senador da República com uma qualificada bibliografia.
Nós, capixabas, temos que conhecer e entender a nossa herança ancestral, com os mitos, símbolos, ritos, as crenças e todos os comportamentos e conhecimentos. Devemos valorizar muito mais a nossa cultura popular, tão importante quanto a literatura, a arte plástica e a arquitetura. A identidade capixaba é resultante de um processo de construção histórica que se iniciou por volta de 1822, logo após a Independência, tendo o maior impulso após os anos 1930, e que precisa ser mais conhecida.
O Espírito Santo é um grande mosaico de diversidade cultural, fruto da herança histórica de dois povos fundamentais para a nossa colonização, como registra em seu texto doutor Gualberto, sobre a “Roma” do mestre Darcy Ribeiro: “A Nova Roma tem, evidentemente, outros componentes. A riqueza da cultura dos povos indígenas está entre elas. A nossa sociedade é extremamente rica em heranças e legados dos povos ancestrais”. Chama a atenção, no contexto das heranças culturais dos povos indígenas, a extraordinária utilização das ervas medicinais, assim como os conhecimentos sobre a mata atlântica e tudo o mais que chegou até nós vindos de pessoas sábias.
Continua o doutor João Gualberto, em seu texto: “Arrancados a força, e com violência, de suas terras os escravizados africanos trouxeram de suas origens a tecnologia que impulsionou nossa agricultura, ou mesmo a exploração do ouro e das pedras preciosas, para ficar em dois exemplos. Eram eles, em grande parte, artesãos habilidosos, mineradores experientes, agricultores afeitos à produção em terras quentes”.
Sabiam muito mais que os portugueses, foram humilhados, maltratados e explorados em todos os sentidos, formam uma base densa do nosso País, do nosso Estado.
Conhecermos a nossa história, nossas origens, com sabedoria e tolerância com as diferenças deve ser o tom do Brasil e dos brasileiros. Não podemos nos esquecer dos alertas e das reflexões do mestre Darcy Ribeiro, que nos lembra João Gualberto, de que: “...somos essa síntese histórica dos novos tempos que as navegações trouxeram, não podemos deixar de admirar o nosso povo, e nunca devemos aceitar teses delirantes das supremacias. Somos produto de um hibridismo cultural extraordinário, da fusão de muitos mundos”.