Inteligência artificial e Educação
É essencial refletir sobre os desafios de uma adoção mais ampla dessa tecnologia
Recentemente, participei de uma missão na Ásia organizada pela Fundação Itaú, voltada à inovação e ao uso da inteligência artificial (IA) em educação e cultura. Este tema é especialmente oportuno, considerando que o Senado brasileiro acaba de aprovar o marco regulatório para a IA.
No Espírito Santo, utilizamos IA desde 2019 para corrigir automaticamente as redações dos alunos da 3ª série que se preparam para o ENEM. Todas as escolas estaduais com oferta de Ensino Médio participam do projeto, que trouxe resultados expressivos: saímos da 11ª para a 1ª posição no ranking nacional em 2022 e 2023. Esse avanço comprova o potencial transformador da IA na educação.
Porém, é essencial refletir sobre os desafios de uma adoção mais ampla dessa tecnologia. O primeiro ponto a destacar é o caráter sistêmico das transformações que ela promove. Assim como o carvão, a eletricidade e a informática remodelaram a sociedade, a IA desponta como uma força revolucionária, com impacto em todas as áreas da vida, incluindo a educação.
A história nos alerta para os riscos dessas revoluções. A queima de carvão impulsionou o progresso, mas agravou o aquecimento global; a informática trouxe inovações, mas também desafios ao desenvolvimento de crianças e jovens. Com a IA, devemos balancear benefícios e riscos, sem negligenciar questões éticas e sociais.
Outro aspecto relevante é a aparente irreversibilidade dessas mudanças. Apesar de parecerem inevitáveis, elas são moldadas por escolhas que refletem os valores de cada sociedade. É crucial debater temas como governança de dados, vieses algorítmicos e discriminação. Neste contexto, os críticos e céticos não são inimigos do progresso, mas aliados na construção de decisões mais conscientes e responsáveis.
Por fim, é indispensável preservar a dimensão humana nesse processo de transformação. Durante a missão, conheci tecnologias que podem enriquecer a educação, mas nenhuma substitui a primazia da criatividade e competência dos professores. A formação inicial e continuada, abrangendo não apenas o uso de ferramentas de IA, mas também metodologias pedagógicas inovadoras, é essencial para sustentar a qualidade do ensino.
Encerro com um exemplo que ilustra essa questão. Durante a pandemia, escolas adotaram tecnologias digitais para dar continuidade às aulas, mas, em muitos casos, o formato tradicional foi apenas transposto para o ambiente virtual. A tecnologia foi usada como ferramenta, sem promover mudanças significativas no ensino. Isso reforça que a verdadeira transformação não está na tecnologia em si, mas no uso criativo e reflexivo que fazemos dela.
Vitor de Angelo é secretário de Estado da Educação do Espírito Santo e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed)
Observação: este texto foi escrito pelo autor e revisado no ChatGPT.