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Leitores do Jornal A Tribuna

Marinete

Leia a coluna de domingo (15)

Pedro Valls Feu Rosa | 16/12/2024, 14:35 h | Atualizado em 16/12/2024, 14:35

Imagem ilustrativa da imagem Marinete
Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo

Dia desses li um interessante texto sobre o nióbio. Trata-se de um metal utilizado principalmente na produção de ligas de aço de alta resistência, com aplicações na construção civil, na indústria mecânica, aeroespacial, naval, automobilística e nuclear, entre outras.

O grande diferencial desse metal, pelo que compreendi, é sua incrível resistência à corrosão e às temperaturas extremas. Assim, quando adicionado na proporção de gramas por tonelada de aço, confere a esse propriedades sem as quais o mundo como o conhecemos seria impossível.

Segundo entendi, o Brasil detém as maiores reservas conhecidas de nióbio (98,43%), seguido pelo Canadá (1,11%) e Austrália (0,46%). No País, as jazidas conhecidas estão em Minas Gerais (75,08%), Amazonas (21,34%) e em Goiás (3,58%).

Parei para meditar um pouco: torna-se evidente que o Brasil tem praticamente o monopólio desse metal raríssimo, sem o qual muitas das facilidades tecnológicas às quais a humanidade se acostumou – de computadores a aviões a jato, de tomógrafos a reatores – escasseariam. Eis aí, sem qualquer sombra de dúvida, um patrimônio irrenunciável do povo brasileiro.

Tive a ideia, então, de procurar saber qual o preço de venda de tão distinta riqueza. Que arrependimento! Afinal, como exclamava Lichtenberg, “nada induz a uma maior paz de espírito do que não ter opinião sobre nada”. Sim, seria melhor ter continuado a viver na ignorância – doeria menos.

Constatei, absolutamente consternado, que o preço médio de exportação do ferro-nióbio subiu de US$ 13 o quilo em 2001 para US$ 32 em 2008. Em 2012, a média ficou em US$ 26,50 o quilo. Em 2024, uns US$ 40.

Decidi, para fins de comparação, apurar o preço de um quilo de chocolate importado da Suíça, país no qual até onde sei não existe um único pé de cacau. Fui a um supermercado e verifiquei que quatro latinhas de 250 gramas cada totalizariam US$ 85,08 – umas duas vezes mais!

Decidi fazer uma outra comparação, desta feita com um litro de uísque envelhecido 12 anos – desses que encontramos em supermercados. Uma garrafa custa em média US$ 68.

Fiz, então, uma última comparação: coloquei lado a lado um quilo de nióbio e uma máscara de palhaço importada, própria para o Halloween. O nióbio ficou nos US$ 40 conhecidos e a máscara em US$ 66,35 – e isto não é palhaçada alguma, claro!

Meu susto foi ainda maior ao ler sobre a existência de um documento do Departamento de Estado dos EUA, vazado pelo famoso Wikileaks em 2010, que incluía as minas brasileiras de nióbio em uma lista de locais considerados estratégicos – por aquele país, claro!

Porém, mais há: em 2011, segundo estudei, um grupo de empresas estrangeiras – da China, da Coreia do Sul e do Japão – adquiriu robustos direitos de exploração desse nosso minério.

Enquanto isso, alheia a estes graves problemas nacionais, lá vai Marinete, 6 anos de idade, rumo ao seu trabalho como catadora de lixo, na companhia de milhares de outras crianças brasileiras. Boa sorte, Marinete! Espero que você encontre algum nióbio lá no lixão!

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