Inovação corporativa: uma jornada entre a intenção e a execução
Não podemos nos deslumbrar com o futuro sem garantir a sustentação da empresa hoje
Uma pesquisa realizada neste ano pelo Boston Consulting Group (BCG) apontou um dado preocupante quando se trata do futuro da inovação nas organizações: apesar de 83% das empresas concordarem com a importância de inovar, apenas 3% se veem prontas para implementar a inovação.
Quando comparamos este resultado com a evolução da pesquisa ao longo dos anos, a conclusão que temos é ainda mais alarmante. Em 2022, 75% dos entrevistados reconheciam a importância da inovação e 20% se diziam prontos para inovar. Essa diferença de 17% na prontidão para inovar, em menos de dois anos, me faz lembrar as palavras do Paulo Emediato, CMO da Oxygea, em um de seus artigos: “Estamos testemunhando uma evolução necessária - menos 'washing' e mais pragmatismo, num teste de estresse que valoriza os mais eficientes e resilientes”.
Apesar de assustar a princípio, o resultado da pesquisa pode ser animador se mudarmos a perspectiva. Afinal, demonstra que as empresas têm compreendido o que realmente significa inovar à luz de Schumpeter - implementar uma ideia para gerar valor. O que me faz pensar se o termo “inovação com resultado” não seria um pleonasmo, já que inovação pressupõe tornar realidade uma ideia para resolver um problema.
A lacuna observada entre a intenção e a preparação para inovar deixa claro o desafio que as organizações enfrentam: a execução. Tenho observado dezenas de empresas ao longo desses últimos anos e posso afirmar que quem colhe resultados com a inovação hoje, plantou uma estratégia clara e com foco, teve estômago para recalcular a rota em alguns momentos - o que só é possível com uma cultura de inovação forte -, celebrou pequenas vitórias ao longo da jornada e utilizou a inovação de forma sistemática.
O rumo de uma organização é determinado pela sua estratégia e, para superar essa lacuna, a inovação entra como um meio para que os resultados sejam alcançados. Dessa forma, é essencial que a empresa tenha clareza de quais são seus desafios a curto, médio e longo prazo. Para isso, há uma importante ferramenta chamada “horizontes de inovação”, que classifica os esforços que serão dispensados para agregar valor aos produtos ou serviços e clientes atuais, aos adjacentes e aos novos que ainda serão desenvolvidos e conquistados.
A curto prazo, trabalhamos as inovações incrementais nos processos e core business da empresa; a médio, podemos evoluir para a criação de novas ofertas e novos mercados; por fim, o horizonte mais distante é o que aposta no desenvolvimento de tecnologias que podem disruptar o negócio atual.
Parcimônia é a palavra-chave para o balanceamento dessas ações, afinal, não podemos nos deslumbrar com o futuro sem garantir a sustentação da empresa hoje. Mas também não se pode concentrar todo o foco em melhorias incrementais e correr o risco de perder a relevância ao longo do tempo.
O estudo do BCG até aponta que 48% das empresas tentaram vincular a inovação à estratégia, mas apenas 12% relataram um vínculo capaz de gerar um impacto real. Esse grupo, que demonstrou um forte alinhamento entre as estratégias de negócio e de inovação, experimentou aumento de 5% acima da média dos demais em suas vendas.
Segundo o coautor do estudo e sócio do BCG, Justin Manly: “Estamos observando um quadro preocupante de organizações zumbis, apenas seguindo os movimentos da inovação sem uma estratégia clara para concentrar seus esforços. Para voltar aos trilhos, fortalecer o vínculo entre a estratégia de inovação e a estratégia de negócios é o lugar mais crítico para começar”.
No Base27, por exemplo, pudemos oferecer uma jornada completa para as empresas em 2024. Compartilhamos conhecimento sobre tendências e mercado para apoiar o planejamento de 2025, proporcionamos um trabalho imersivo para desenho da estratégia de inovação individual das empresas, ensinamos a identificar os desafios enfrentados e realizamos as conexões com as melhores soluções presentes no ecossistema, seja para com outras empresas, startups e até pesquisas realizadas com instituições de ensino parceiras.
Não é por acaso que fomos reconhecidos pela segunda vez consecutiva no ranking 100 Open Startups, que premia os negócios gerados com inovação aberta no País, e neste ano, como o primeiro lugar entre entidades privadas no Estado. Isso demonstra que as empresas da comunidade têm realizado negócios relevantes em nível nacional.
A inovação corporativa é desafiadora. Não é trivial resolver os problemas atuais, gerar valor para o cliente, agir conforme as oportunidades do mercado e ainda ser focado em “matar o próprio negócio”, isso tudo em um ambiente em constante mudança. Fazer parte de um hub pode ser uma forma de começar, afinal, nosso dever é atuar como um catalisador da inovação dentro das empresas. Mas, para além da conexão com ambientes de inovação, é preciso apoiar o fortalecimento da cultura de inovação e o desdobramento da estratégia. Só assim alcançamos resultados reais com inovação corporativa.
Pollyana Rosa Polez é diretora de Inovação do Base27