Festa de Aparecida
Coluna foi publicada nesta segunda-feira (14)
A Igreja recorda, no dia 12 de outubro, a aparição de Nossa Senhora a três pescadores (1717), que, ao lançar suas redes nas águas do rio Paraíba, “pegaram” a imagem de Nossa Senhora da Conceição. A partir de então, o ambiente humilde de Guaratinguetá tornou-nos um lugar, onde a Virgem Aparecida começou a mostrar sua solicitude materna, a favor de seus filhos mais pobres e sofredores.
É singular o fato de que, em Aparecida, em 2007, foi celebrada a Vª Conferência do Episcopado Latino-americano, que publicou o “Documento de Aparecida”: um dom extraordinário de Deus à sua Igreja.
A festa nos faz compreender melhor alguns aspectos da fé cristã: a maternidade eclesial de Maria; a intercessão dos Santos; o compromisso para tornar o nosso mundo mais humano e solidário e a “opção preferencial pelos pobres”, própria das Igrejas Latino-americanas. Como a rainha Ester, num momento crucial na vida de povo judeu – exilado e ameaçado de extinção, na Pérsia, – intercedeu junto ao rei Xerxes, salvando-o de segura destruição, assim, Maria protege o novo povo de Deus, a Igreja, das ameaças de morte contra ela: seu poder de Rainha o exerce, estando ao lado de seu Filho e dos discípulos dEle, que lutam pelo Evangelho.
Como Ela esteve nos momentos mais significativos da vida de Jesus – encarnação, exílio, Nazaré, vida pública, Calvário, deposição, sepultura, ressurreição, ascensão, pentecostes (em oração, junto com os Apóstolos, no cenáculo) – assim, a Mãe de Jesus acompanha a Igreja, em seu itinerário terreno, até a volta gloriosa de seu Filho, nos últimos tempos da história humana.
O Anjo Gabriel, não sem um sentido bíblico-teológico-salvífico profundo, a chama: “Kekaritomene” (a cheia de graça): ela, nada é em si mesma, tudo o deve à misericórdia divina. Isabel a declara: a “Mãe do meu Senhor”, a “Bendita entre as mulheres” e a “Bem-aventurada por sua fé”, pois escutou a palavra do Senhor, aderindo a ela com todo o seu coração.
No alto da Cruz, recebeu uma segunda maternidade – “Mulher, eis o teu filho. Filho, eis a tua mãe”– para sustentar a Igreja na sua difícil missão. Sendo ela, “Panáguia” (a toda santa), “Odigitria” (aquela que aponta o Caminho), – conhece o seu Filho por dentro, como nenhuma outra pessoa ao mundo – O poderá indicar a todos como o nosso único Senhor e Salvador.
O episódio de Caná – no Evangelho de João tem um valor estratégico e programático – apresenta Jesus como Aquele que vem trazer plenitude de vida e esperança para toda a humanidade. Dentro do simbolismo conjugal, próprio do Quarto Evangelho, Maria representa a humanidade – a esposa – que deseja contrair uma aliança de amor com Deus – o esposo.
Ao seu pedido, Cristo transforma a água no “vinho melhor”, o Espírito Santo, – dom dos tempos messiânicos: denúncia sútil, mas significativa, nesta festa da Aparecida, das situações de degrado e morte, em que se encontram milhões de marginalizados, em nosso país e no mundo inteiro. Um convite pressante para estarmos atentos e disponíveis, como Maria, para melhorar a qualidade de vida deles, como, também, dos povos mais oprimidos.