Doenças cardíacas: ameaça real à saúde das mulheres
Coluna foi publicada nesta sexta-feira (22)
As mulheres têm um papel multifacetado na sociedade, e essa pluralidade de funções implica em mudanças de hábitos e estilos de vida que impactam diretamente o seu bem-estar físico e mental. O fato de passarem pelo ciclo menstrual, de vivenciarem a maternidade e de buscar o sucesso profissional, sendo muitas vezes as únicas provedoras da família, reforça a ideia historicamente construída de que as elas são uma fortaleza.
Ao negligenciarem seus próprios sintomas, deixam a saúde em segundo plano, reduzindo as chances de diagnóstico precoce de doenças e de tratamentos mais eficazes.
Entre os prejuízos ocasionados pela ausência de cuidados, estão os problemas cardíacos. Estudos recentes, como o “Women’s Ischemia Syndrome Evaluation” (WISE), mostram que as doenças cardiovasculares matam uma em cada três mulheres. Dessas ocorrências, 47% são atribuídas às doenças arteriais coronarianas, os infartos do miocárdio.
Outra pesquisa conduzida pela Universidade de Emory (EUA) revela que o número de ataques cardíacos provocados pelo estresse nelas é superior aos que ocorrem em homens. As evidências, portanto, derrubam o mito de que apenas homens são vítimas de infartos.
No Brasil, o número de infartos em mulheres entre 15 e 49 anos saltou de 7.100 para cada 100 mil habitantes em 1990 para 11.600 em 2019. Ao longo de quase três décadas, houve crescimento de 62%. Os dados são do estudo “Global Burden of Diseases” (GBD).
A ausência de medidas preventivas relacionadas aos fatores de risco modificáveis, tais como estresse, sedentarismo, alimentação inadequada, tabagismo e consumo excessivo de álcool, contribui para o aumento das mortes por doenças cardiovasculares entre a população feminina, incluindo as mais jovens.
A menopausa, uma etapa natural da vida, é outro ponto crítico. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), as alterações hormonais que ocorrem neste período estão ligadas às taxas de gordura no sangue e ao metabolismo, aumentando o risco de doenças cardiovasculares.
Embora culturalmente já exista uma rotina de realização de exames ginecológicos e de mama, quando o assunto é check-up cardiológico a frequência de mulheres nos consultórios é menor. Por isso, essa fase requer abordagem especializada e vigilância constante. É fundamental direcionar ações preventivas e educativas voltadas especificamente para elas.
Uma prevenção eficaz depende de intervenções essenciais: a oferta de mais médicos na rede pública de saúde, inclusive cardiologistas; políticas públicas voltadas à assistência e à prevenção de doenças; e um constante investimento em estudos científicos que apontem caminhos para a cura de patologias que ainda são responsáveis por tanta mortalidade.
Neste mês, no qual celebramos as conquistas femininas, vale lembrar que cuidar da saúde potencializa a força da mulher para assumir seus inúmeros papéis sem abdicar de si mesma. Compreender isso e estimular a mudança de hábitos é dever de toda a sociedade.